As estreias na Apresentação das Marchas de Lisboa (1º dia)

As Marchas Populares de Lisboa de 2016 apresentam-se nos dias 3, 4 e 5 de junho no Meo Arena. Cerca de 1920 marchantes vão desfilar pela Avenida da Liberdade na noite de 12 de junho. Ontem, a noite foi de estreias.

“Era o meu sonho. Sempre disse que não ia morrer sem entrar numa marcha e aqui estou eu, pela primeira vez. É a Boavista, é o meu bairro e, por isso, é de coração”. Carla Cruz, de 45 anos, marcha de verde e amarelo pelo Bairro da Boavista.

O bairro social da Boavista participa pela primeira vez nas Marchas Populares de Lisboa. A vontade era antiga, mas só este ano é que se reuniram todas as condições para apresentar a candidatura. “Boavista sai à rua” foi o tema escolhido para representar o bairro que tem quase tantos anos como as marchas da cidade.

Nos bastidores, quando já faltam poucos minutos para a abertura da cortina, os nervos começam a ficar à flor da pele. Para lá do pano preto estão mais 1200 pessoas à espera de ver a marcha estreante. Os 48 marchantes alinham-se com os 18 arcos. Esta noite vai ficar para a história do bairro e é, acima de tudo, o resultado de dias intensos. “Estamos um pouco nervosos, mas é uma sensação única. Ver o meu bairro a desfilar no pavilhão é um orgulho. Por tudo o que nos aconteceu, merecemos muito estar aqui” refere Mónica Taveira, marchante, sobre acontecimentos recentes que envolveram o figurinista Joaquim Guerreiro.

Há males que vêm por bem e, por isso, Gilda Caldeira, responsável pela marcha, prefere não valorizar a situação, pelo menos esta noite: “Levaram-nos 22 mil euros. Pagámos duas vezes a marcha, mas estou aqui. Estou feliz! Não vamos à cama desde quarta-feira, mas também estamos mais unidos. Nós conseguimos dar a volta e vamos arrasar!” 

Abre-se a cortina, ouvem-se os aplausos e lá vai a marcha.

A primeira marcha a apresentar-se no antigo Pavilhão Atlântico foi a infantil da Voz do Operário. São 79 pequenos marchantes entre os 6 aos 12 anos. Há 30 anos que a marcha desfila pela avenida. Fica fora da disputa bairrista que caracteriza estes dias, por reunir crianças de todos os pontos da cidade.

“Esta marcha tem também uma vertente pedagógica que é a de passar às nossas crianças o conhecimento sobre a nossa história e tradição. Este ano comemoram-se os 50 anos da Ponte 25 de Abril e, portanto, para além de lhes passarmos a importância de preservar o folclore, as marchas, mostramos-lhes a história e a nossa ligação ao rio”, explica o responsável Vítor Agostinho.

Hana Sofia e João Batista são os padrinhos da marcha infantil deste ano: “É a primeira vez que participo numa marcha. Gosto de experiências novas e gosto especialmente de crianças. Por isso, achei que fazia todo o sentido aceitar o convite. Vamos divertir-nos muito”, garante o ator português.

Outra estreia nas marchas populares é a madrinha do Lumiar, Inês Gonçalves. “Aqui sinto-me como se fosse uma estreia de um espectáculo e é uma sensação muito boa porque não sei o que está do lado de lá. Sinto uma união muito grande no grupo e acho que vai ser espectacular quando abrirem a cortina”, afirmou a atriz que foi acompanhada pelo ator Paulo Matos. Esta foi também uma das marchas envolvidas no caso do figurinista Joaquim Guerreiro, mas os padrinhos garantem que o episódio só serviu para exaltar o espírito de entreajuda do grupo. A marcha do Lumiar participa este ano com o tema “Sete Séculos e Meio a Alumiar Lisboa”.

Mais experientes no que toca a festas popular são os padrinhos João Catarré e Sílvia Rizzo que assumem pela primeira vez a representação da marcha de Penha de França. A marcha traz o tema “No bailar dos Cacilheiros”. “O espírito está fantástico. Este espírito de bairro é importante, faz parte e só é bom para a nossa Lisboa, é ótimo”, defendem os padrinhos.

Ontem passaram ainda pela Meo Arena a marcha de Benfica com o tema “Pelas Calçadas, Calçadões e Calçadinhas Passeiam e Dançam os Alfacinhas” que tem como padrinhos Ana Galvão e Daniel Leitão, a marcha do Bairro Alto com o tema “Bairro Alto Marca a Hora por esta Lisboa Fora” e a marcha da Bela Flor – Campolide sob o mote “Prisioneiras a Lisboa com Amor”.

A marcar a noite esteve a presença surpresa de António Costa e da sua comitiva. Segundo a organização, esta foi a primeira vez que um Primeiro-Ministro português esteve no evento de apresentação das Marchas Populares de Lisboa. António Costa tinha estado momentos antes, ali perto, no congresso do PS a realizar-se por estes dias na FIL.

Foi uma noite de estreias e de festa que não promete ficar atrás nos dias que se seguem. Durante 4 e 5 de junho vão ser conhecidas as restantes marchas de Lisboa no mesmo local.