Cem Soldos, foi um lugar de Bons Sons


Os habitantes de Cem Soldos, que tão bem acolhem este festival e as pessoas que aqui se deslocam, sabem que hoje a agitação dos três dias anteriores acabou. A aldeia lentamente volta ao seu ritmo calmo e vagaroso. Mas também sabem que, amanhã é o dia em que se começa a preparar o Bons Sons 2018.

Ontem (14), a manhã do ultimo dia do festival, foi para aproveitar ao máximo a aldeia de Cem Soldos.  Os visitantes aproveitaram para deambular pela aldeia, despedindo-se dos novos amigos que aqui deixam e comprar as ultimas recordações. Durante os dias do festival, Cem Soldos foi um lugar de encontros.

Durante o dia, encontramos diversas propostas culturais para além dos palcos de música. O Auditório exibiu as curtas-metragens finalistas do concurso deste ano do festival Curtas em Flagrante.

Já no Auditório, Tiago Pereira partilhou o seu ato criativo de edição das dezenas de horas gravadas entre Paris e o Alentejo a acompanhar um grupo de Cante Alentejano formado naquela capital. Um grupo criado por pessoas que não são portuguesas e que não conhecem o Alentejo e a pergunta impôs-se: como se pode cantar uma cultura que não se conhece? Foram 50 minutos intitulados “Cantadores de Paris – Autópsia de uma montagem“, com sequências e ideias do filme de Tiago Pereira a estrear em novembro.

Para quem a juventude não tem idade, os Jogos do Helder, máquinas lúdicas feitas em madeira que desafiavam a interação e a competição. Também se houve a possibilidade de conhecer melhor os Burros de Miranda através de passeios pela zona da Aldeia, pela Aula do Burro ou dos contadores de histórias que animaram o Curral.

O primeiro concerto da tarde, levou ao palco MPAGD, o grupo Sanct’Irene, que ao apresentarem a sua musica, divulgam o património musical oral da região de Santarem, recuperando paralelamente outros sons, mais arcaicos e menos “folclóricos”. Logo a seguir no mesmo palco, entraram as Moçoilas, grupo de 3 vozes femininas, que em harmonias doces e simples interpretaram temas do cancioneiro algarvio.

O largo de São Pedro, onde estava instalado o Palco Giacometti, ficou suspenso na respiração de Marco Luz enquanto o acompanhamos a dedilhar a guitarra. A sua música toca-nos a pele e entra diretamente nos pulmões para que respiremos com ele.

Com temas mais clássicos, inspirados no universo da guitarra de Lisboa, ouvimos os LST – Lisboa String Trio vencedores do Prémio Carlos Paredes de 2015, que atuaram no palco instalado em frente à igreja de S. Sebastião

O Palco Giacometti revelou-se perfeito para o tipo de concerto intimista a que Válter Lobo já nos habituou. Uma atuação intensa e carregada de lirismo, deixou-nos com a certeza que este será um nome presente, sempre que se falar dos novos valores da musica portuguesa.

Frankie Chavez, de guitarra em punho, encheu o palco Lopes-Graça, com blues e folk, que projetaram ambientes que foram do cru ao psicadélico.

No palco da antiga Eira, os The Poppers, a banda experiente, provocadora e intensa, com tanto de imprevisível como de perfeccionista, mostraram a todos os presentes, que o rock’n’roll não passa de moda e continua bem vivo.

Rodrigo Leão, um dos mais reconhecidos músicos e prolíficos compositores portugueses e um dos nomes mais aguardados deste festival, subiu ao palco Lopes-Graça, para com a sua veia mais pop, enérgica e leve, tocar canções e peças instrumentais que recheiam um sem número de êxitos discográficos.

 O Eira recebeu ainda Octa Push, que prestaram homenagem à musica lusófona feita nos últimos 40 anos, onde se cruzam influências e ritmos contemporâneos e de diferentes latitudes.

O Festival chegou ao fim com a festa de encerramento no Palco Aguardela. A música foi escolhida por Rodrigo Affreixo que gira discos na cidade do Porto desde 1999, com predileção pela música negra, disco, house e algumas incursões no passado até aos anos 70.  Visitantes, habitantes, organização e voluntários, todos se juntaram para dançar e celebrar mais um ano de Bons Sons.

Como nos disse alguém da organização “Com um brilhozinho nos olhos haverá despedidas de amigos e abraços de até-para-o-ano. Este BONS SONS soube-nos a tanto. Para o ano haverá mais”

Até lá!