Covilhã, Guarda, Belmonte – Um triângulo beirão com muito para descobrir

A realização da 5ª edição da Feira Ibérica de Turismo, na cidade da Guarda, foi o pretexto para uma ‘fugidinha’ na redescoberta do património histórico, cultural, e gastronómico de um triângulo beirão tão rico, mas ainda tão desconhecido.

ALDRABISCAS@

Edificada, na paisagem montanhosa da Serra da Estrela, a Guarda foi uma das mais importantes fortalezas de um conjunto de fortificações defendendo a fronteira portuguesa contra Castela e Leão, durante a Idade Média. Fundada oficialmente pelo rei D. Sancho I, que lhe concedeu a carta em 1190 protegia o território nacional sendo hoje um ponto de partida para se conhecer locais interessantes do centro de Portugal, nomeadamente as Aldeias Históricas. É nesta cidade que, pelo quinto ano consecutivo, se reúnem empresários e investidores, de Portugal e Espanha, para apresentar e promover os seus produtos, serviços e recursos na Feira Ibérica de Turismo (FIT).

Mas se a Guarda é uma das cidades mais importantes do Centro/Norte, a Covilhã, situada na Cova da Beira, sopé da serra mais alta de Portugal, não é menos importante.

Cidade com uma grande tradição empresarial e industrial, outrora conhecida como a “Manchester Portuguesa”, a Covilhã apresenta-se hoje como uma cidade que soube criar capacidade e competências para a formação de jovens altamente qualificados, a par de manifestações culturais como o “Woll Fest”, ou a “Street Art”.

A pé, percorremos as ruas estreitas da zona histórica, onde encontramos um assinalável conjunto de intervenções de Arte Urbana, que dinamizaram espaços esquecidos e degradados. Este labirinto de ruas formam um verdadeiro ‘museu’ ao ar livre, onde podemos encontrar murais de Bordallo II, de Vhils (este quase desaparecido) ou até um mural, em que a população sénior foi chamada a colaborar com os artistas.

Descendo até à emblemática ponte pedonal da Carpinteira de Carrilho da Graça, visitamos o New Hand Lab, um espaço criativo, nascido na centenária fabrica de lanifícios Antonio Estrela, que o seu atual proprietário Francisco Afonso transformou na ‘fábrica dos novos artistas’.

Nesta antiga fábrica, onde ainda se respira o passado, encontramos coloridos novelos de lã, peças de tecidos que dariam belas peças de vestuário e máquinas de tempos idos, mas que ainda hoje funcionam na perfeição.

 Aqui, neste laboratório criativo, reúnem-se designers, estilistas de moda, fotógrafos, pintores e artesãos, para além de uma banda de jazz e alunos de cinema da Universidade da Beira Interior. Uma pequena loja onde se podem adquirir as obras produzidas por estes artistas e um espaço onde se pode tomar uma bebida e ouvir música, completam este fascinante lugar.

O tempo passou rápido e quando saímos do New Hand Lab, a noite já tinha caído e o jantar esperava-nos no Puralã Wool Valley Hotel & Spa. À semelhança do que já tinha acontecido no dia anterior, a ementa era tipicamente portuguesa, preparada com produtos da região.

Satisfeitos, mas cansados, recolhemos ao quarto, uma vez que no dia seguinte, teríamos que levantar cedo, pois o programa era extenso.

E assim foi. Após o pequeno almoço, saímos rumo à Serra da Estrela. A primeira paragem foi na Pousada da Serra da Estrela, pertencente ao grupo Pestana. Este antigo sanatório foi recuperado segundo o projeto do reputado Arquiteto Souto Moura, que manteve as linhas mestras, o pé-direito elevado e os azulejos originais assim como os antigos, mas fabulosos ascensores, em ferro e madeira.

Na Pousada, encontramos um SPA com sauna, banho turco e piscina interior aquecida e uma piscina exterior, para alem de uma zona “Kids” para os mais pequenos. Restaurante, bar e sala de jogos, completam as ofertas desta elegante unidade hoteleira.  Infelizmente, não foi possível conhecer nenhum quarto, uma vez que a taxa de ocupação era de 100%.

Saímos da pousada em direção ao “Covão d’Ametade”. A meio do caminho a neve quis-nos fazer uma surpresa e começou a cair com alguma intensidade. A Serra cobria-se com o manto branco, o que já acontecia nos pontos mais altos. Mas foi de pouca dura porque quando chegamos a Manteigas o sol já brilhava.

Hora de almoço! O destino era a aldeia de Casteleiro onde foi servido, um almoço gourmet, preparado pelo Chef Rui Cerveira da Casa da Esquila.

O projeto da Casa da Esquila, assenta no conceito Gourmet Rural, numa terra com tradições gastronómicas, que importa explorar e valorizar. Dos frutos da época aos legumes, passando pela carne que vem das pastagens beirãs, pelos enchidos confecionados de forma tradicional ou o peixe que vem de longe, mas que aqui é cozinhado de modo especial, Rui Cerveira adotou os ingredientes confecionando-os e transformando-os em produtos de excelência, assumindo que “o lado gourmet também nos permite por vezes algumas pequenas loucuras”.

E quem vai à Casa da Esquila, não fica indiferente nem aos sabores gastronómicos, baseados na tradição nem ao ‘bem saber receber’ tipicamente beirão com que é brindado.

A paragem seguinte foi no Complexo Termal do Cró em Rapoula do Coa a cerca de 15 kms do Sabugal. Inserido na paisagem natural da Beira Interior, longe de tudo, mas perto de algumas das mais bonitas aldeias históricas, o Balneário Termal do Cró é hoje uma infraestrutura de referência termal, com várias valências e terapias.

Paredes meias com o balneário termal, encontramos o Cró Hotel Rural. Inaugurado no verão de 2015, esta moderna unidade perfeita para os adeptos do termalismo, cujas aguas medicinais do rio Côa, (com utilização milenar e reconhecimento oficial desde o Sec. XVIII), estão indicadas para o tratamento de várias doenças, sobretudo músculo-esqueléticas, reumáticas, respiratórias e dermatológicas, oferece a quem o visita, um ambiente acolhedor, com uma decoração sóbria e elegante, em que a madeira tem um lugar predominante, que predispõe ao descanso e ao relax.

Belmonte foi o último destino desta magnifica deambulação por terras beirãs.  A história desta vila remonta ao século XII, quando o concelho municipal recebeu foral de D. Sancho I em 1211. Belmonte é hoje conhecida por ser a terra natal de Pedro Alvares Cabral e por ter acolhido e mantido a maior comunidade judaica no nosso País. O Museu dos Descobrimentos e o Museu Judaico, foram dois dos museus que visitamos.

O Museu dos Descobrimentos/Centro de Interpretação “À Descoberta do Novo Mundo (DNM)” surgiu da vontade da Câmara Municipal de Belmonte em dar a conhecer um dos maiores feitos de sempre da História das Descobertas Portuguesas – o Achamento do Brasil.

Visitar este museu interativo é como fazer uma viagem com mais de 500 anos. Por isso esta epopeia foi produzida com o recurso às mais modernas tecnologias e técnicas museográficas de forma a ser entendida e compreendida por todos os públicos, dando-lhes a possibilidade de participarem, conhecerem e interpretarem a nossa história.

O Museu Judaico de Belmonte, Inaugurado em 2005, expõe mais de uma centena de peças religiosas, de uso profissional e do dia a dia, utilizadas pelas famílias hebraicas e retrata a longa historia da comunidade judaica, instalada na região por volta do seculo XV e que resistiu a seculos de perseguição religiosa. Só após o 25 de abril de 1974, esta comunidade se abriu ao mundo e se deu a conhecer.

Para além destes dois museus, existem ainda o Museu do Azeite, a Igreja de Santiago/Panteão dos Cabrais, a Sinagoga e o Ecomuseu do Zêzere, que já não conseguimos visitar dado o avançado da hora.

Era tempo de regresso. O fim de semana havia-se esgotado, mas deixou em nós uma vontade imensa em muito mais descobrir nesta bela região do nosso país. Desde as belas paisagens naturais, à gastronomia, passando pelo património arquitetónico e pelas festas populares, tudo ainda muito genuíno. Tudo tão natural como o conceito de hotel familiar, aconchegante, confortável, simpatia e atenção com que o Puralã Wool Valley Hotel & Spa acolhe os seus hóspedes, e os faz sentir em casa.