Uma caminhada de vivências … Num vale transcendente da Serra da Estrela
Deixamos o carro à sombra de um castanheiro centenário. Aqui iniciamos a nossa caminhada por este vale de pastores, terra onde ainda se pratica a agricultura de subsistência e autoconsumo, tudo tão próximo de “séculos passados”. Os rebanhos passam vagarosamente por nós. Pessoas que expressam, através das suas palavras, a dureza de uma vida sempre aqui vivida, com uma autenticidade e uma simplicidade que roça o impensável. Ouvimos algumas ‘estórias’, partilhamos emoções, experienciamos alguns dos afazeres. O turismo de natureza, também, necessariamente é isto: partilha de vivências deste e de outros tempos.
Encontramos algures um habitante deste vale, a cuidar do companheiro de trabalho e de transporte. O nome? Bem… Esse perdeu-se na conversa, mas a sua simpatia e genuidade perduram na nossa memória e nos temas de conversa no fim do dia.
A natureza envolve-nos…
O trilho empina-se, os lameiros, os socalcos, as casas simples no vale desaparecem e os promontórios de granito surgem no horizonte. Entramos num bosque de azinheiras, habitantes arbóreos naturais de climas de caráter mais mediterrânico e que remontam à antiga paisagem florestal da Serra da Estrela. A geologia toma conta da nossa conversa, sendo o Aguilhão, o cabeça de cartaz desta jornada. É à sombra deste rochedo que almoçamos o ‘Farnel da Natureza’ devida e cuidadosamente preparado, quanto nossos olhos observam como a água de duas ribeiras que aqui confluem o foram esculpindo. Por instantes, vivenciamos o isolamento e a paz, dando ouvidos somente aquilo que temos de ouvir: a natureza.
Café do montanheiro na escarpa…
Passamos para a outra margem, descalçando as botas, ou saltando de pedra em pedra para iniciamos o regresso. E que regresso!… Ao melhor estilo alpino, sempre com uma paisagem arrebatadora e na companhia do eco dos chocalhos no fundo do vale. Entramos numa zona de forte interesse geológico, com a presença de metamorfismo de contacto, revelado pelo caráter mais escarpado do relevo e existência de cascalheiras. Paramos e sentamo-nos a contemplar toda esta imensidão que vai até ao fim do nosso olhar. À nossa frente, o ‘Café do Montanheiro’. Café quente, com biscoitos secos de uma receita de família e compotas de doces biológicos. A água na boca tanta quanta corre na ribeira…
O melhor do dia foi tudo…
Progressivamente aproximamo-nos do local de partida para a nossa jornada pedestre. O sol esconde-se, as almas do vale já estão a recolher-se mas ainda falta a surpresa do dia. Lembram-se do banho? Pois bem, um mergulho nestas águas transparentes, em que no seu fundo tudo brilha como ouro. Como dizem os locais: “é para enrijar”. Nada na vida se prolonga para além dos limites. E assim foi a nossa caminhada.
O melhor?!… Cá por mim, só posso reproduzir o que os meus companheiros de aventura disseram: “foi tudo”.
Nota: trilho com zonas técnicas e com pendentes. Aconselha-se acompanhamento de guia.
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