Estrela que capta a nossa atenção, transforma-a em emoções e que nos devolve em forma de saudade sempre que temos oportunidade de percorrer as suas estradas, mas, acima de tudo, os seus espaços e trilhos pedestres. É aqui que a natureza e ruralidade se revelam em todo o seu explendor.
É na Primavera – Verão que ela explode de cor, de vida, que se engalana perante nós. Poder ter oportunidade de presenciar essa metamorfose, que faz do Verão na montanha um momento tão especial, tão único e irrepetível. Imagine você, no seu fim-de-semana, ou nas suas férias, ter acesso a tudo isto. “É de luxo” disseram-nos…
A realidade de um outro mundo
O nosso guia espera-nos e, rapidamente, começamos por caminhar pelas Faias de São Lourenço, onde a frescura nos corre pela espinha. Aqui o calor tórrido de Verão fica à porta e gozamos do melhor ar condicionado que existe: a sombra de uma floresta.
Deslocamo-nos para a piscina natural do Vale Glaciário do Zêzere. Nas entranhas deste símbolo geológico, testemunho da glaciação Wurmiana, esconde-se uma verdadeira praia de montanha. A paz está garantida, o sossego é interminável e água, a mais translúcida onde já nos conseguimos banhar. É aqui o paraíso?
“merenda do montanheiro”
Já na zona dos Piornos, a fome aproxima-se. Mas ainda conseguimos subir em direcção ao Cascalvo. Subimos por entre um mar de amarelo cintilante da Piorneira-da-Estrela, um arbusto comum nesta área. No topo falta o ar pela admiração, os olhos se expandem para alcançar todo o esplendor da paisagem. Um maciço granítico apresenta-se perante nós com uma varidedade de cores incontável. É aqui que vamos usufruir da nossa “merenda do montanheiro” e o nosso guia abre o cardápio de estórias da pastorícia ou recua para os primórdios do esqui em Portugal, cuja génese aqui teve lugar.
Queremos conhecer o Cântaro Raso, o Adamastor de granito, irmão gémeo do Cântaro Magro e Cântaro Gordo. Agora caminhamos para sentir a força da Serra da Estrela. O selvagem, o raro, o ímpar… Tudo respira natureza pura e dura. Olhamos em nosso redor e damos por nós a imaginar o reino de gelo que aqui reinou e os testemunhos em forma de erosão e depósitos glaciários que deste ponto podemos avistar. Uma verdadeira aula de geologia em que a melhor tutora é a própria Estrela.
O calor faz-se sentir, mas algo de muito especial sabemos que vai acontecer. Parámos o nosso carro nas imediações das Salgadeiras. Deste lugar, de mochila às costas e seguindo o passo ritmado e confiante do nosso guia, rumamos aos mais altos lagos de Portugal. Depressões sulcadas pelos antigos glaciares formam a cama destes charcos, lagos e lagoas. São estes as nossas praias de granito, silenciosas, sem confusão, imortais num mundo quase irreal, rodeados de rochas aborregadas e polidas, que protegem arrelvados verdejantes e repletos de vegetação tão própria e de urgente preservação. É um mundo à parte neste mundo. E tudo só para nós…
Um Oceano?
O dia aproximava-se do seu ocaso, mas o nosso guia disse-nos: “Querem ter um oceano aos vossos pés”? O que nos esperava? O que seria? Surge do nada o por do sol num mar de nuvens. Sim… Sim é possível termos um oceano na Estrela e um coração a palpitar de felicidade extra, algures numa escarpa perto da Penha do Gato. Nunca um café servido em final de tarde, neste lugar, teve um sabor tão surpreendente.
De regresso, conseguimos garantir algo que é irrefutável. Aqui se vive num dia o que um ano tem para nos dar. A Serra da Estrela é, de facto, “um outro Mundo”.
De repente, acordo do sonho. Tudo atrás descrito é a pura da realidade, mas num sonho profundo e tranquilo. Afinal, quem sonhou esta história? Eu, Nuno Adriano, o guia local, preparando-me todas as manhãs para mais um dia de “trabalho” que anciosamente espero.
NOTA IMPORTANTE: Em alguns dos locais mencionadas aconselha-se a visita com acompanhamento de guia
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