Sortelha, a aldeia anel

Sortelha foi o destino por nós escolhido para mais uma ‘incursão’ por terras do interior que se pretende cada vez mais visitado, conhecido e menos esquecido.

Sortelha
Sortelha, a aldeia anel - ©Nuno Adriano

Se há aldeia que cria em nós um sentimento de pertença, de identidade local e de visita imperiosa, essa aldeia encaixa perfeitamente na áurea de Sortelha. Aldeia mistério, onde este começa pela sua toponímia que, até hoje, tem várias versões e levanta ao alto aquilo que nos atrai: a sua misticidade.

A aldeia dos quatro “S´s”

Num alto proeminente, exposta aos elementos da natureza, emerge a torre de menagem e o perímetro muralhado de Sortelha com a geometria quase circular. Tal como a cidade da Guarda, conhecida pelos seus cinco “F´s”, também decidi aplicar a mesma fórmula numérica a Sortelha. A aldeia dos quatro “S´s”: secreta, sublime, sólida e sedutora. É assim que a apresento, de forma oratória, aos meus convidados, onde através de cada “S”, vamos conhecer passo a passo, pedra a pedra, a história e as particularidades desta aldeia que integra a rede das Aldeias Históricas de Portugal.

Sublime…

Iniciamos a nossa aventura em procura dos quatro “S´s”, com uma caminhada na orla da aldeia, por entre calçadas e canadas já gastas pelo tempo imemorial. O contexto envolvente é fortemente marcado pela orografia granítica, fustigada por processos erosivos que transformaram estas massas rochosas em ‘bolas’ de formas peculiares e repletas de comunidades liquénicas. A sua rudeza contrapõe com a rudeza do segundo reduto das muralhas de Sortelha. Uma obra sublime de pedra sobre pedra onde as forças, as tensões, o peso e gravidade se reúnem numa tática perfeita de equilíbrio. A beleza está aqui: na simplicidade e na sua eficácia.

Secreta…

Ao passar o portal gótico, entramos no Largo do Corro. Um outro mundo, uma outra dimensão. Aqui recuamos no tempo e entramos numa espécie de peça teatral medieval, gótica e renascentista. Atrás do perímetro muralhado do burgo acedemos a todos os secretismos que emergem desta aldeia, atingindo o clímax no largo da Antiga Casa da Câmara e Prisão e o Pelourinho manuelino, onde este mostra toda a altivez e representando o expoente máximo do poder municipal e judicial que expunha. Nos seus degraus sentamo-nos, fechamos os olhos e construímos a imagem de como seria o dia-a-dia nos tempos de outrora, onde a nobreza se exaltava nos seus jogos de estatuto e o povo aplaudia, bailava e celebrava.

Sólida

Do alto do seu castelo de linhas limpas, simples e de origem românica temos uma dupla visão: a paisagem exterior que facilmente mostra o porquê da sua existência aqui. Uma vista de 360º de uma vastidão incalculável. A paisagem interior, da aldeia de granito, sólida que nem aço com dois contrafortes de muralhas. Aqui destaca-se a visão sobre Igreja Matriz e a Torre Sineira desanexa. A Torre de Menagem marca um tempo, o tempo em que esta aldeia era um autêntico ‘panzer’ na proteção da nossa fronteira e território. Hoje temos o privilégio de caminhar nas suas muralhas, em paz. Como tempo muda!…

Sedutora…

O que nos seduz? Este emaranhado de casas juntas, protegidas por este anel de pedra, onde cada casa se liga à outra numa harmonia de granito. A Casa do Juiz, a Casa do Governador, a Casa Paroquial, tudo encaixa, tudo tem sentido. As cores uníssonas destas pedras escalonadas de forma geométrica transmitem tranquilidade e paz, tornando a nossa visita um agradável momento de bem-estar e interação. São as histórias e pormenores destas que saltam de quem enquadra a visita. É este binómio que transforma o nosso turismo em algo mágico, de elevado padrão qualitativo e é aí que sempre nos situamos.

NOTA IMPORTANTE: Nestes percursos, aconselha-se vivamente a visita com acompanhamento de guia.

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