Vanessa Teodoro – a artista urbana de mente irrequieta e mãos de cirurgião

Vanessa Teodoro é uma artista urbana de mente irrequieta e mãos de cirurgião, que chegou à pintura pelo caminho do design

Vanessa Teodoro
Vanessa Teodoro - a artista urbana de mente irrequieta e mãos de cirurgião - © Armando Saldanha

Quem vê um trabalho de Vanessa Teodoro, não tem dúvidas em identificar os outros. Todos têm o seu cunho muito pessoal e inconfundível. Nasceu na Africa do Sul, e foi na Cidade do Cabo que viveu até aos 10 anos, idade com que veio para Lisboa. A publicidade e o design gráfico, definem a sua formação académica e profissional, e fazem parte do seu quotidiano no que diz respeito à sua linguagem artística e identidade visual. Define-se como alguém que tem “uma mente irrequieta, com mãos de cirurgião”.

Residente em Lisboa, tem na típica Marvila, o seu estúdio/refugio. As paredes do estúdio estão decoradas com alguns projetos de arte pessoais e aqueles que fez para algumas marcas comerciais.

“Sempre gostei de fazer desenhos e rabiscar nas coisas, mas nunca acreditei que poderia realmente ser uma artista e ganhar a vida fazendo o que amava. Foi por isso que decidi estudar design gráfico. Foi uma abordagem segura, digamos.” explicou Vanessa.

Começou a fazer arte de rua em 2009. A sua primeira experiência foi um concurso de pintura mural para o município de Lisboa em colaboração com um amigo que já pertencia ao mundo da arte de rua/grafiti. “Acho que o fato de eu ser uma mulher num mundo masculino também me colocou no centro das atenções. Outra coisa que gosto na pintura de murais públicos é o fato de atingir mais pessoas do que uma galeria normal e impactar diretamente na vida das pessoas” refere Vanessa Teodoro.

O facto de haver poucas mulheres nesta área, faz com que esta artista, sinta que está nadando contra a maré, mas que ao mesmo tempo, ajuda a ter mais visibilidade “Às vezes é frustrante ver que a maioria dos festivais de arte de rua tem 90% de artistas do sexo masculino. Não há desculpa para não haver mais mulheres a pintar. Agora finalmente há muito mais mulheres e é inspirador ver. Acho que o fato de Portugal ser um país latino ainda tem uma visão muito masculina da vida e da cultura. Eu sinto que toda vez que estou pintando murais públicos, as pessoas dão uma segunda olhada e comentam “oh, é uma mulher “.

Dedicando-se exclusivamente à sua arte desde 2009, Vanessa não é uma artista típica. Apoiada na sua formação académica, conseguiu combinar a sua criatividade com um bom conhecimento de negócios que aprendeu trabalhando com agências de publicidade. Essa experiência deu-lhe o conhecimento necessário para trabalhar com uma vasta lista de marcas entre elas a Louis Vuitton e a Jaguar. “As grandes marcas podem ajudar-nos a estabelecermo-nos como artistas” sublinha.

Com um gosto especial por projetos de arte de rua acha muito gratificante o desafio de pintar grandes murais públicos. Seu estilo é definido por uma complexa batalha entre padrões gráficos, elementos figurativos e fortes contrastes, tudo com um toque de caos e humor, muito inspirados pela sua identidade africana.

Vanessa tem vários murais públicos de grande escala à volta de Lisboa: três no Lumiar, um em Alvalade, um em Entrecampos, um no Bairro Padre Cruz e um em Almada. Renovou uma estação de comboios – Entrecampos – e vai começar a trabalhar numa cisterna de água que precisa de ganhar nova vida na zona oriental da cidade.

Os murais de Vanessa são facilmente reconhecíveis. Geralmente apresentam-se com muito preto e branco, e os seus padrões de pop art de marca registada. “Sempre gostei de padrões. Mas o meu estilo evoluiu. Quando eu estava a começar, fazia muitas estatuetas, mas com o tempo o meu trabalho tornou-se mais abstrato.”

Esteve três vezes na China, em trabalho. A experiência, segundo a artista “Obrigou-me a sair da minha zona de conforto. Independentemente da cidade para onde vou, é sempre uma aventura e um choque cultural brutal. Faz-me ver o mundo com novos olhos. Faz-me crescer como artista e como pessoa. A China, não é um país, é um planeta! Diferente de tudo. Os costumes, a maneira como eles agem entre eles,  é uma coisa fascinante, mas eu não me consigo imaginar a viver lá!”

Por outro lado, rendeu-se à cidade de Castelo Branco depois de lá ter estado a trabalhar durante um tempo. «Faz parte do nosso interior as terras onde amámos, onde rimos, onde nos inspirámos, onde conhecemos e onde trabalhámos. No meu interior tenho cada palavra amiga, cada sorriso e cada inspiração, graças ao meu trabalho que me leva por locais fantásticos e inesquecíveis, este é um dos lugares que faz parte do meu interior.” diz Vanessa.

Castelo Branco é uma cidade bastante rica culturalmente e um elemento no qual Vanessa se inspirou foi no bordado de Castelo Branco, “que tem características únicas e fascinantes, um detalhe extraordinário em cada ponto e o facto de cada elemento ter o seu lugar na composição.”

Vanessa Teodoro esteve a trabalhar no projeto para celebrar a distinção recebida pelo Município, de Região Europeia Empreendedora 2021-22, e cujas obras podem ser vistas no Cybercentro, no Centro de Empresas Inovadoras, na Incubadora Industrial e na Fábrica da Criatividade.

Mas sem dúvida, diz Vanessa “que as pessoas são a minha memória mais querida. Para quem está habituada à azáfama que é viver em Lisboa, conviver e partilhar o meu trabalho com pessoas tão genuínas e simpáticas, como as que encontrei por Castelo Branco, foi uma experiência maravilhosa” acrescentando ”é uma cidade onde pretendo voltar!”

No início de junho, conjuntamente com Kruella d’Enfer e o Elianyuri, Vanessa foi convidada pela IKEA a dar uma segunda vida a três móveis IKEA usados.

Inspirado na dualidade entre opostos: luz/sombra e preto/branco, a função (dar luz) do candeeiro foi aproveitada para acentuar os reflexos nos padrões fluídos pintados de forma simples e circular. A mancha gráfica reflete subtilmente um padrão de um caos organizado tanto por dentro como por fora. Bolas pretas penduradas para uma abordagem mais kitsch (inspirado nos candelabros de cristal), tornam-no num “statement piece”. Vanessa Teodoro acrescenta que, apesar de ser uma técnica simples, “decerto poderá ajudar a inspirar os clientes da IKEA a criarem algo único ao darem uma segunda vida aos seus candeeiros antigos”.

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