“Deixem o Pimba em Paz” enche Praça do Comércio


O espetáculo de Bruno Nogueira e de Manuela Azevedo, com o acompanhamento da Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML), “Deixem o Pimba em Paz” trouxe ontem, sexta-feira, milhares de pessoas ao Terreiro do Paço.

Inserido nas Festas de Lisboa, o concerto começou às 22h05 com o tema “24 Rosas”, de José Malhoa, seguindo-se “Sozinha”, de Ágata, e “Na minha cama com ela”, de Mónica Sintra.

Graciano Saga viu a sua “Vem devagar, emigrante” ser transformada por Bruno Nogueira numa espécie de rap e depois Manuela Azevedo desacelera o ritmo com outro sucesso de Ágata: “Comunhão de Bens”, interpretado lenta e dramaticamente e com um som de harpa de fundo.

Eis que chega o primeiro convidado da noite. Jorge Palma, ao piano e a solo, canta José Reza e Dino Meira com “Meu querido mês de agosto”, em versão tango.

De seguida, Manuela Azevedo toma conta do piano e inicia-se “Porque não tem talo o grelo”, de Leonel Nunes, interrompido por Bruno Nogueira que questiona a OML, “Não era bem isto que tinham pensado para a vossa carreira? Estudassem!” e arranca gargalhadas do público.

Voltando às posições iniciais e ao som de um jazz é apresentada “A bela portuguesa”, de Diapasão, com Marante que continua, sob o olhar atento de Bruno Nogueira, com “Som de cristal”.

Toy e o seu tema “És tão sensual” leva Manuela Azevedo a apelar ao público que acede ao pedido da cantora dos Clã e criando a atmosfera ideal para o tema seguinte: “Já não sou bebé”, de Romana, em versão eletrónica.

Nuno Rafael, um dos diretores musicais do espetáculo, e Bruno Nogueira, numa versão acústica, apresentam Quim Barreiros e “A garagem da vizinha”, seguindo-se “O melhor dia para casar” e “Mãe querida”.

Sara Tavares foi a terceira convidada apresentada e, com um “enorme orgulho”, cantou “Não és homem para mim”, de Romana.

Marco Paulo esteve presente nos temas “Ninguém, ninguém” e, na música final, “Taras e manias”, numa noite que Bruno Nogueira classificou como “irrepetível e extraordinária”.

Não satisfeita com a cerca de 1h30 de espetáculo, a multidão presente grita, assobia e pede mais. Os músicos regressam ao palco e segue-se um encore com várias músicas de Quim Barreiros encadeadas umas nas outras: “A cabritinha”, “Pito mau”, “A padaria” e “Os bichos da fazenda”.

O concerto termina com a repetição de “Já não sou bebé”, ao mesmo tempo que o público assiste ao fogo-de-artifício que se ergue no rio Tejo.

Com arranjos musicais para orquestra de Mário Laginha e Filipe Melo, os êxitos de música popular escolhidos vestiram uma roupagem de jazz, pop e swing, o que lhes deu uma nova vida, tendo sido tratados por todos os envolvidos, desde o início, “de uma forma séria e com um enorme respeito”, segundo Manuela Azevedo.

A artista, visivelmente satisfeita pela grande adesão do público, refere que “tendo em conta que estavam todos com um ar tão satisfeito e felizes a cantar connosco, se calhar o preconceito [para com o “pimba”] não existe mesmo”, defendendo que “se ajudarmos nessa reconciliação com aquilo que é nosso, ficamos muito contentes”.

“Este projeto tinha, logo à partida, esse desafio de olharmos para este reportório sem ideias feitas, sem achar que era música menor ou menos interessante e levar as pessoas a descobrir que há sumo nestas canções. Há histórias comoventes por trás delas, há músicas trágicas, outras que nos fazem rir e acho que nos encontramos todos nestas canções, pelo que não há que ter vergonha delas”.

Manuela Azevedo disse que “este projeto continua a ser uma surpresa para nós, desde que o estreámos ele continua a crescer, tornando-o sempre diferente”, contribuindo também a resposta dos artistas convidados que, de acordo com a cantora, “tem sido de uma enorme generosidade e uma lição de vida”.

O espetáculo “Deixem o Pimba em Paz” estreou-se no Teatro Municipal São Luiz e percorre o país há cerca de 3 anos.