Uma ode à democracia durante todo o mês de abril é o que propõe o restaurante-galeria Cícero Bistrot, situado em Campo de Ourique, no mês que marca a contagem decrescente para os 50 anos da Revolução dos Cravos.
Várias ações marcam o primeiro abril do Cícero Bistrot desde a sua abertura que sugerem várias reflexões à mesa, sempre com um denominador comum: a arte como agente transformador, ou não fosse também este espaço, a expressão da vida e da obra de Cícero Dias, artista, mas também ele mesmo um cidadão profundamente envolvido com os valores defendidos por Abril.
Inspirados na sua trajetória, abrimos as portas do Cícero Bistrot para marcar a Revolução de Abril e a democracia, durante todo o mês, iremos realizar ações para relembrar os impactos da revolução nas artes e na vida de Portugal e também do Brasil.
Cícero Dias, um dos mais expressivos pintores modernistas brasileiros e figura central do nosso restaurante-galeria, foi um acérrimo defensor da liberdade e da democracia ao longo de toda a sua vida. A sua luta e as suas ações foram reconhecidas em 1998, quando o pintor, aos 91 anos, recebeu a Comenda de Ordem Nacional do Mérito de França, entregue pelo primeiro-ministro à época Eduard Ballard, sendo outorgada pelo então Presidente da República francesa, Jacques Chirac, na sede da Unesco, em Paris.
Um dos motivos que levou a este reconhecimento, foi a atuação antinazi de Cícero. Em 1942, o pintor brasileiro contrabandeou o poema “Liberté”, de Paul Éluard, da França ocupada pelos nazis para a Inglaterra. Um gesto que mostra a sua grandeza e o seu espírito subversivo e de resistência. O texto, que era o grande grito do poeta francês, identificado com as dores e anseios do povo e da pátria, foi traduzido em vários idiomas e lançado por aviões aliados nos céus da Europa ocupada. Para marcar essa convergência dos valores defendidos por Cícero Dias e pela Revolução dos Cravos, o Cícero Bistrot convidou o ator brasileiro Chico Diaz, que acaba de estrear o filme Vermelho Monet no festival de Cinema Brasileiro em Paris, para fazer uma interpretação do poema em vídeo. A performance será lançada na semana anterior ao 25 de abril.
Além dessa ação, várias personagens da vida pública, amigos do Cícero Bistrot, são “chamados” a partilhar testemunhos da influência da revolução nas artes ou vice versa, como marca o depoimento de Gilmar Mendes, Ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil para quem “a democratização ressuscitou a liberdade de expressão, que permitiu a emergência de novas formas de arte e cultura.” Do lado de lá do Atlântico, à época, a Revolução de Abril deu sinais claros de que era possível mudar, já que o Brasil vivia também uma ditadura militar.
Também Sidnei Tendler, pintor e artista plástico com obras na coleção exposta no restaurante-galeria, aborda os impactos da revolução na conceção da cultura, que inspirou artistas das mais diversas áreas e países num depoimento já disponível nas plataformas digitais do Cícero Bistrot. Ele, com 16 anos em 1973, recorda o impacto sentido no Brasil na altura e músicas de Chico Buarque (que virá em abril a Portugal receber o Prémio Camões), como “Fado Tropical”, que acabaria por ser censurada por, claramente, ser uma alusão à liberdade tão ansiada também no Brasil.
Abril é também o mês que retoma a Cimeira Luso-Brasileira e Portugal recebe, de novo, Lula da Silva que escolheu o Cícero Bistrot para a sua primeira refeição em Portugal depois de eleito, em novembro, neste regresso ao poder e que acabaria por ser o mote de uma série de conversas.
Na semana que antecede o 25 de Abril, o Cícero Bistrot será ainda palco de uma tertúlia com jornalistas, artistas e outras personalidades que vão debater, à mesa, o papel das artes durante aquele período e a influência da revolução nas criações artísticas e expressões culturais. Para Paulo Dalla Nora Macedo, sócio cofundador do Cícero Bistrot “Este é um mês para reafirmar o propósito do Cícero Bistrot, que se traduz em ser um espaço de diálogo, de debate, de pontes entre o Brasil, Portugal e, obviamente, a Europa tendo como elemento central a arte, a cultura, a língua passando por uma gastronomia que dialoga diretamente com a arte. Acreditamos na força da arte para impulsionar a evolução e reflexões sobre a sociedade.”
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