Portugal não tem resposta para homens vítimas de violência doméstica

Quando se pensa em violência doméstica, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a de uma mulher sendo atacada por um homem. E, de facto, assim acontece na realidade ou, pelo menos, na grande maioria dos casos: 80 % das vítimas deste tipo de crime são do género feminino. O problema é que o sistema português de combate à violência doméstica está alicerçado no pressuposto de que 100% das vítimas são mulheres e que 100% dos agressores são homens. As casas-abrigo existentes no nosso país só albergam mulheres e crianças vítimas de violência e o programa público de tratamento de agressores só é destinado a homens.

“Há uma razão bastante clara para que exista uma maior preocupação com as mulheres”, explica Catarina Marcelina, Secretária de Estado da Igualdade. “Como qualquer política pública, esta procura responder ao maior número de situações”.

No Relatório Anual de Segurança Interna pode ver-se que 18,1% das vítimas de violência doméstica em 2012 foram homens. No ano seguinte, esse número aumentou para 18,6%, enquanto que em 2014 os homens representaram 19,2% das vítimas de maus tratos.

“A lesgislação foi feita de acordo com o parâmetro da violência de género”, diz Teresa Morais, do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) “Continuamos a ter muito mais mulheres vítimas, mas começam a aparecer mais denúncias apresentadas por homens. “Se as mulheres têm vergonha, os homens muito mais. É muito mais complicado”.