Arte contemporânea une-se ao vinho na Vidigueira


A Quinta do Quetzal, em Vila de Frades, Alentejo, produz vinho desde 2006 e, dez anos depois, tem também um centro de arte contemporânea, que, apesar de estar aberto desde junho, foi inaugurado oficialmente ontem, dia 7 de setembro.

O museu de arte contemporânea ocupa 450 metros quadrados da quinta de cinquenta hectares, propriedade do casal holandês Cees e Inge de Bruin-Heijn, um dos maiores colecionadores de arte do mundo. E é do seu espólio privado que sairão as obras que estarão em exposição no Centro de Arte Quetzal, por períodos que se poderão prolongar entre seis a doze meses.

Aveline de Bruin, uma dos quatro filhos do casal, é a curadora da coleção de família que começou há cerca de 40 anos, a qual apenas se vai conhecendo através dos empréstimos que vão sendo feitos ao MoMA, em Nova Iorque, à Tate, em Londres, ao Reina Sofia, em Madrid e ao Hermitage de São Petersburgo, e explicou o porquê de um centro de arte no nosso país:

“Portugal sempre foi uma coisa de família, vínhamos para cá desde que eu era bebé e, quando a minha irmã mais velha se casou, os meus pais compraram-lhe uma vinha. A vinha foi crescendo por causa das suas uvas tão especiais e, neste momento, temos muito orgulho no nosso vinho”, acrescentando que “os meus pais são apaixonados colecionadores de arte, por isso temos agora o centro de arte, com um restaurante, que combina o amor que os meus pais têm pela arte contemporânea com a adega que já existia.”

Pat O’Neill, Trisha Baga e Robert Heinecken foram os artistas escolhidos para a primeira exposição, que deverá ficar patente até fevereiro ou março e que, como todas as outras, tem entrada livre e a curadora justificou como foi feita a escolha:

“Existem outras adegas que mostram arte e eu queria fazer algo diferente, que dissesse algo pessoal sobre a nossa coleção de arte. Também escolhi o Pat O´Neill porque gosto imenso do trabalho dele e achei que merecia um lugar aqui. Ele está a ganhar, lentamente, reconhecimento no mundo da arte e penso que tem uma grande ligação a uma nova geração de artistas que também trabalha de uma forma diversificada.

O Robert Heinecken foi professor e amigo do Pat, por isso achei que seria muito bom combinar a arte dos dois e a Trisha Baga é uma artista muito nova, que também trabalha de uma forma não sequencial e não linear, como o Pat fez nos anos 70 com um certo “LA look”, mas ela é de agora, desta época. Assim, acho que estes três artistas fazem uma óptima combinação.”

O cineasta experimental e independente, Patrick O´Neill esteve presente na inauguração do centro de arte e revelou-se “muito honrado, regozijado e surpreso” por fazer parte do primeiro lote de artistas expostos e disse que “apesar do conceito de unir uma vinha a um centro artístico ser uma ideia arriscada, as pessoas responsáveis sabem o que estão a fazer e acho que será um grande sucesso, podendo dar origem a mais projetos como este.”

Aveline tem esperança que o espaço receba “uma grande diversidade de pessoas.Umas porque é uma região muito bonita, outras porque são apreciadoras de vinho e querem fazer um passeio pela adega e ainda aquelas outras que querem apreciar a comida do Alentejo no nosso restaurante e têm ao lado uma exposição de arte, a qual como que é um presente extra.”

No futuro, poderá haver lugar ainda para uma residência artística, mas só “depois deste projeto que nos deu imenso trabalho acalmar um pouco. Na Holanda existem várias pessoas familiarizadas com o processo de criar uma residência dessa natureza e, na altura certa, certamente que nos irão ajudar.”

Para o americano Patrick O´Neill, é um plano que resultará porque “este é um sítio onde as pessoas podem vir e ser livres de qualquer pressão e ser influenciadas por este espaço único.”

A inauguração do Centro de Arte Quetzal contou com a presença de 250 convidados, entre artistas, galeristas, curadores e coleccionadores de arte.