Vodafone MexeFest: A música fez Lisboa mexer


Ontem teve início a sexta edição do Festival Vodafone Mexefest que este ano deu início às hostilidades no Cine-Teatro Capitólio no Parque Mayer, a mais recente “aquisição” do Festival.

A abertura ficou a cargo de Celeste Mariposa que brindou os presentes com as suas sobejamente conhecidas sonoridades africanas, numa viagem que levou os espetadores a Cabo Verde, Angola, Moçambique e Guiné Bissau. O artista animou aqueles que se deslocaram até ao terraço do Capitólio num concerto que, apesar de não ter desiludido, ficou também marcado pela parca assistência. A responsabilidade de tal acontecimento pode ser derivada à organização do Festival, dada a hora de início do concerto. De facto, Celeste Mariposa já provou ser capaz de encher salas e de deixar o público em êxtase, mas não às seis da tarde.

Valas entrou em cena, nos Bastidores do Capitólio, no local, onde talvez é o cenário mais Underground do Festival. Valas, também conhecido como João Valido é um rapper de Évora que vem mostrar que nem só nos grandes centros urbanos – entenda-se Lisboa e Porto – se fazem rimas e beats de qualidade. Com álbum previsto para 2017, Valas e os Matilha 101 patrocinaram um espetáculo que teve direito a uma plateia que já lhe entoa a rimas e que não deixou dúvidas de que a inércia alentejana não mais é que um mito, sendo que durante um concerto, um amigo dos cantores subiu até ao palco e cantou algumas músicas e divertiu o público.

Ainda no Capitólio, no Cine-Teatro, Mike El Nite & Nerve apesar de ambos serem rappers, as suas palavras e a forma como contam histórias em forma de rimas, são bem diferentes. Nerve foi o primeiro a apresentar-se ao público e chamou Blasph, também rapper. Ainda durante o seu espetáculo cantou temas como “A Vida Não Presta & Ninguém Merece a Tua Confiança”, “Sociedade Perfeita” e das suas músicas mais conhecidas “Nós e Laços”, contou ainda com a participação especial de uma rapper portuguesa bem conhecida dos presentes, Capicua que animou e deixou o seu brilho pessoal na atuação ao cantarem em conjunto “Judas e Dalilas”. Mike El Nite foi o rapper seguinte e fez mexer os entusiastas do género musical e cantou ainda juntamente com Nerve uma música nova “A Vida Não Presta”.

A abertura do São Jorge ficou a cargo de Acid Acid que contou com a participação de Violeta Azevedo na flauta transversal, a tocar descalça, com bastante simplicidade. O duo presentou a plateia da Sala Montepio com sonoridades psicadélicas a fazer lembrar os já mais conhecidos Sun Araw. O concerto que também estimulou o córtex visual dos presentes, poucos foram aqueles que, depois de entrarem não se mantiveram atá ao final da atuação. Um espetáculo que relaxou os presentes.

Ainda no São Jorge, foi a vez da banda The Invisible. O trio de Londres, encheu a Sala Manuel de Oliveira, sendo que anteriormente o local já se encontrava repleto de curiosos que esperavam ansiosamente os músicos. Com uma sonoridade bastante conhecida e com a boa disposição característica, os The Invisible provaram mais uma vez que não fazem justiça ao próprio nome e tornaram-se bem visíveis aos olhos de quem os viu e ouviu.

As grandes atuações da noite ficaram a cargo de Sunflower Bean e Jagwar Ma que apesar de serem bastante distintos, tiveram em comum casa cheia, plateias dedicadas e sonoridades que não deixaram ninguém indiferente. Respeitando a cronologia dos acontecimentos, comecemos pelos Sunflower Bean.

A primeira banda é originária de Brooklyn, os Sunflower Bean são um trio composto por uma guitarra, um baixo e uma bateria. É a simplicidade material, mas desengane-se quem pensa que a mesma se traduz em simplicidade musical. Naquele que foi o concerto com mais BPM’s da noite, a plateia que encheu a Estação do Rossio, foi saudada com uma energia contagiante e com um tipo de música e atuação que infelizmente começa a escassear nos dias que correm. Foi uma lufada de ar fresco e se de facto os Sunflower Bean começaram bem, pode dizer-se que acabaram ainda melhor. Com um final memorável, no qual o guitarrista saiu do palco a rebolar e com um sorriso de real contentamento, resta esperar que possamos voltar a vê-los num palco brevemente.

Jagwar Ma entrou em palco no Coliseu dos Recreios com algum atraso. Contudo, o atraso deveu-se a PacMan, que na varanda do Coliseu, declamou um texto chamado “O princípio de uma boa foda” que prezou pelo vernáculo, a ordinarice e pelo grafismo sexual e erótico. Foi mais um bom momento que apesar de curto, foi grosso. Quando Jagwar Ma subiu ao palco, o Coliseu já se encontrava à pinha e foi bem recebido pela banda Australiana que se apresentou em boa forma e a corresponder a irrequietação que já se fazia sentir na plateia.

Num concerto brilhante, Jagwar Ma provaram que a sala cheia não se deveu ao facto de a essa hora serem a única atuação que decorria. Foi o fechar do primeiro dia com chave de ouro. E hoje à noite segue-se mais uma noite no Festival que faz mexer a cidade de Lisboa.