Conheceremos as nossas riquezas?

São Pedro do Sul, considerada a capital do termalismo em Portugal, situada em pleno vale de Lafões, é emoldurada pelos maciços das serras da Arada, Gralheira e S. Macário. São 14 as suas freguesias e são, diríamos, 14 as experiências a não perder.

Adega Típica Pena - Aldeia da Pena - S Pedro do Sul - CH1P9421
Aldeia da Pena - S Pedro do Sul - Adega Típica Pena - ©Aldrabiscas

O Município de S Pedro do Sul, Juntas de Freguesia, Associações locais e a Termalistur, meteram ‘mãos à obra’ de revelar o que de bom a região possui. Entre outras iniciativas, existe um programa quinzenal que permite a termalistas e visitantes experiências únicas. Cada freguesia tem algo muito identitário muito próprio.  Se em Manhouce é possível fazer a manteiga com a Isabel Silvestre e com o grupo de cantares de Manhouce, em Aveloso há o ‘Fabrico do pão-de-ló de Sul’ enquanto que em Pindelo dos Milagres a tradição é a ‘malha do milho’.

Pindelo dos Milagres? Sim, é a terra mais “metaleira” de Portugal. O movimento Milagre Metaleiro teve inicio na segunda metade da década de 80 e consistia na reprodução dos lançamentos rock/metal, gravados em cassete e distribuídos entre os jovens da terra.

Em 1990, o primeiro concerto de hard rock/ heavy metal na aldeia e a vinda dos Ferro & Fogo, foi algo que ficou cravado nos adolescentes e jovens Pindelenses, começando o movimento a ganhar mais adeptos e a dimensão, que faz com que os concertos de “Metal” perdurem até hoje.

Mas como para além do hard rock/ heavy metal há que promover os produtos endógenos e a cultura da região, em colaboração com o Município de S. Pedro do Sul, da Junta de Freguesia de Pindelo dos Milagres e da Milagre Metaleiro Associação Cultural, realizou-se, este ano, pela primeira vez a Feira dos Saberes & Sabores. Desenganem-se aqueles que pensam ser mais um Festival! Tudo confecionado por Pindelenses que fazem verdadeiros milagres com os produtos da sua terra, proporcionando-nos o prazer de reviver aqueles sabores que temos no nosso imaginário. Os pontos altos foram o “Festival da Sopas” e o “Festival das Feijoadas” para os amantes da comida ‘com mais substância’.

Rumamos á Serra de São Macário, cujo nome teve origem na historia de um carvoeiro que se tornou ermita nesse local. Reza a lenda que Macário, jovem carvoeiro, casado com uma linda rapariga, um dia ao voltar para casa encontra um casal deitado na sua cama. Enlouquecido de ciúme, mata os vultos enlaçados, pensando que sua esposa o traía. Verificou depois que tinha matado os seus próprios pais, que o tinham ido visitar e que se tinham deitado na sua cama, enquanto a nora enxugava as suas roupas, molhadas pela chuva os tinha apanhado no caminho. Depois disso Macário tornou-se ermita, na gruta que ainda hoje se pode visitar.

A paisagem que a nossa vista abrange é maravilhosa. No meio da serra, vestida de mil cores, quase não damos pela estrada íngreme e sinuosa que desce até à aldeia da Pena.

Para lá chegar faz-se o “Caminho do Morto que matou o Vivo”, lenda sobre o isolamento da Pena: um morto num caixão, levado em braços e a pé. Quando o homem que ia à frente tropeça, o morto cai-lhe em cima, matando-o! Tão íngreme é a encosta até ao cemitério.

Aninhada no fundo do vale, esta aldeia típica de xisto, que se confunde com a Natureza que a envolve, num cenário de magia, conta apenas com seis habitantes, duas delas, crianças e 10 casas de habitação. Junto a uma ribeira de água cristalina, à entrada da aldeia, fica a Adega Típica Pena, toda ela em xisto e um pouco mais acima a Capela de Santo Inácio da Utopia.

Mas a Aldeia da Pena está a reinventar-se para continuar a ser uma das aldeias mais típicas de Portugal. Guardar o “espírito” do lugar, moldado pela labiríntica serra é essencial, mas ao mesmo tempo quer abrir as portas para o mundo. É nesse âmbito que a Câmara de S. Pedro do Sul, através de um protocolo assinado com a Universidade da Beira Interior, decidiu avançar com a iniciativa de recuperar casas abandonadas e transformá-las em espaços de ecoturismo.

Os projetos feitos pelo departamento de Arquitetura da Universidade, ficarão na posse da autarquia e serão disponibilizados gratuitamente aos proprietários que podem ou não avançar com o investimento.

Era chegada a hora do almoço e fizemo-nos à subida. Desta vez a estrada, pareceu-nos mais simpática. Rumamos a Macieira Sul, onde envolvido pela natureza, junto a um conjunto de castanheiros centenários, o restaurante Salva Almas, nos esperava com uma excelente ‘Vitela à Lafões’.

Restaurante rustico com gastronomia regional, está na família dos ‘Josés de Almeida’ há três gerações. Fruto da teimosia de José de Almeida, contra tudo e contra todos, que lhe diziam que aquele não era o local para um restaurante, ali ficou, e se fez o que é hoje.

Em agradecimento a São Macário, santo da sua devoção, José, hoje com cerca de noventa anos, construiu com as suas mãos, uma capelinha de homenagem ao Santo, por baixo do restaurante, agora gerido por seu filho.

Despedimo-nos destas terras, e das belas paisagens, que nos encheram a vista e o coração, com a promessa de regressar. Muito mais há a (re)descobrir e dar a conhecer.

Embora recorrendo a um chavão antigo recomendamos-lhe “vá para fora cá dentro”! Descubra e usufrua das nossas riquezas naturais e culturais.