CAPEIA ARRAIANA DE FOIOS – A tradição cumpriu-se

Na freguesia de Foios, concelho do Sabugal, o mês de agosto é, por excelência, o mês das férias e da festa de São Pedro e São Sacramento. No âmbito desta festa, um dos acontecimentos mais característicos é a Capeia arraiana, uma tradição com raízes ancestrais, ansiosamente aguardada pelos habitantes desta aldeia.

freguesia de Foios, concelho do Sabugal
CAPEIA ARRAIANA DE FOIOS - Fernando Curado Matos

A capeia arraiana é uma corrida de touros originária das terras de Ribacôa, próximas da fronteira com Espanha, que se diferencia das demais formas populares de manifestações tauromáquicas, pelo facto de a lide de o touro bravo ser efetuada com o recurso do Forcão. Um outro aspeto diferenciador é touro não ser picado nem batido e no final sair da praça sem nenhuma ferida ou sangue visível.

A origem da Capeia Arraiana não está bem determinada no tempo, sendo apenas conhecida e transmitida de geração em geração pela memória coletiva das populações do concelho. A referência escrita mais antiga remonta a 1886 no conto “Uma Corrida de Toiros no Sabugal” do escritor Abel Botelho e em 1893 há já referências à Capeia com a utilização do Forcão.

A Capeia terá tido origem no “pagamento” que os ganadeiros da província espanhola de Salamanca fariam anualmente às aldeias de Ribacôa, pelos prejuízos causados pelo gado que atravessava a raia, invadindo os lameiros e hortos.

A festa tem inicio pela manhã, quando os cavaleiros conduzem os touros através dos campos até à praça da aldeia (encerro). O tempo da escolta, varia de acordo com a habilidade dos cavaleiros e a reação dos touros. O encaminhamento dos touros é efetuado com o auxílio de cabrestos (touros castrados) e vacas mansas, utilizadas não só para encorajar os touros no seu percurso para a povoação, mas também nas próprias Capeias, para auxiliar a entrada e a retirada na praça dos touros mais renitentes.

A entrada de cavaleiros e touros na praça ou no largo do corro é acompanhada de gritos de encorajamento e palmas dos espectadores enquanto que os touros, sacodem as cabeças de maneira provocante, em atitude de desafio.

Então abrem-se as portas dos «curros» e os touros saem para a praça onde cerca de 30 homens pegando no forção fazem frente ao touro, enquanto os “rabixadores”, tentam impedir o animal de contornar o forção e pôr em perigo os que o pegam no flanco.

É a partir desse momento em que homem e touro estão frente a frente, separados pelo forção que se inicia uma ‘dança’ em que a habilidade e a coragem dos pegadores, rivaliza com a argucia e força do touro.

Normalmente são seis os touros corridos da mesma maneira. A meio da tarde é introduzida uma vaquinha, para que os mais pequenos possam mostrar as suas habilidades na lide, brincando com um forcão feito à sua medida, mas também para o gosto e a tradição continue a perdurar nas terras de Ribacôa.

Quando os seis touros acabam de ser lidados, a tarde já se aproxima do fim e chega também o final da corrida. “O desencerro” é o momento culminante da festa, altura em que os touros voltam aos campos, escoltados pelos mesmos cavaleiros que participaram no “Encerro”.