Sem-abrigo: Quando um pavilhão de escola se torna casa temporária

Portugal criou novos espaços de norte a sul do país para acolher pessoas sem-abrigo, no momento em que enfrenta uma pandemia por covid-19. Visitámos um desses abrigos e falamos com quem nele temporariamente vive.

Sem-abrigo
Sem-abrigo: quando um pavilhão de escola se torna casa temporária - ©Bruno Taveira

O centro de acolhimento temporário de pessoas sem-abrigo localizado no pavilhão da Escola Secundária Fernando Lopes Graça, é um dos espaços que foram anunciados pela Câmara Municipal de Cascais, no início da pandemia da Covid-19. Aberto 24 horas, com camas, balneários e alimentação, alberga quase três dezenas de pessoas sem-abrigo. Durante o dia convivem, praticam desporto e partilham as suas histórias de vida, marcadas por experiências, fragilidades, ruturas e perdas.

O sonho de David

David Lessi, 34 anos, natural da Guiné Bissau, é um dos utentes deste centro de apoio. Chegou a Portugal com 19 anos, trouxe na bagagem a esperança de uma vida melhor e um futuro promissor na música, uma das atividades que mais gosta. Devido a desavenças familiares, David veio morar para a rua em 2008, desde essa data, nunca teve uma casa própria. Chegou a morar numa pequena sala, na casa de uma pessoa que generosamente o acolheu, mas voltou novamente para a rua de um sítio para o outro. Hoje passa a maioria do tempo no centro, em convívio com os restantes utentes. Afirma que aqui tem tudo o que necessita, “é muito bom graças a Deus, comemos, tomamos banho e ficamos bem, estou muito satisfeito, aqui tratam-me bem”, afirma.

Com um futuro incerto, David ainda imagina, “ter uma casa e puder trabalhar como servente de carpinteiro”, refere.

A força de André

Numa cama próxima, dorme André, 40 anos, natural da Moldávia, está em Portugal há 20 anos. Foi casado e tem dois filhos. Trabalhou sempre “atrás de um volante”, foi camionista de longo curso, um trabalho exigente, mas que lhe deu a possibilidade de conhecer toda a Europa.

Nos primeiros meses deste ano, André mudou de empresa. Mas, devido à pandemia da Covid-19, a empresa deixou de ter o mesmo volume de trabalho e começou a dispensar os funcionários mais novos, André foi um deles. Sem dinheiro para pagar o arrendamento do quarto onde morava, viu-se forçado a pedir ajuda. Veio parar o centro de acolhimento temporário, “eu nunca dormi na rua é a primeira vez que aconteceu isto comigo, mas aqui temos tudo o que é necessário, tratam-nos muito bem”, refere.

Com força de voltar a trabalhar, foi a partir de um anúncio que André conseguiu encontrar um trabalho, motorista da Uber, mas ainda não sabe quando inicia. “Por acaso tive sorte, liguei para um anúncio e arranjei emprego de motorista da Uber, apanhei um bom patrão que me quer ajudar”, refere emocionado.

O Futuro “sem-abrigo”

Todos os utentes sabem que esta situação é temporária, o regresso às ruas será para breve. As casas voltam a ser improvisadas, junto a uma fachada de um prédio, aguardar pela bondade de estranhos para comer e onde dificilmente têm acesso aos cuidados mínimos necessário em período de pandemia…. literalmente pessoas sem-abrigo

 

 

aNOTÍCIA.pt