Um oceano chamado Serra da Estrela

Rumamos a mais uma expedição, desta feita, a um ‘oceano’ chamado Serra da Estrela. Sentimo-nos de alma preenchida tal a energia que emerge das suas ‘ondas’

Um oceano chamado Serra da Estrela
Um oceano chamado Serra da Estrela - ©Nuno Adriano

Um oceano chamado Serra da Estrela

 Ao longe, um promontório rochoso eleva-se num oceano de águas turbulentas, fustigado por vagas sucessivas que se levantavam do fundo e são expelidas com toda a violência contra falésias desprotegidas. É um mar atípico, do vai e vem, do aparece e desaparece. Longe de ser um cenário de catastrofismo ou apocalipse traduzido nas primeiras linhas, este é um mar da montanha, que circunda a ‘ilha’ da Serra da Estrela, em que gostamos de navegar livremente e ao sabor do vento.

Terra à vista

“Terra à vista”. A célebre frase utilizada no legado dos marinheiros. A montanha essa avista-se envolvida num abraço caloroso pelo nevoeiro da costa, que só deixa de fora do véu os pontos mais altos, dando razão ao pensador grego, Heraclito, quando este afirmou: “a natureza gosta de se ocultar”. Ela não pregou essa partida e não defraudou a nossa vinda à nascença. A profundidade diminui, as milhas descontam para zero e seguimos toda sequência para se proceder à atracagem. Após minutos que parecem horas, finalmente atracados.

Atracar na ‘ilha’ 

De pés na terra, iniciamos a nossa missão expedicionária. Caminhamos livremente pelo planalto superior, onde encaramos a natureza, qual artista de qualidade e renome mundial, que continua a sua obra sem fim na modelagem desta paisagem tão própria, tão nostálgica. O destino desta expedição está traçado no azimute mental e seguimos a passo acelerado, tal era a vontade olhar o mar de uma perspetiva cimeira, deixando para trás a margem ‘terráquea’ ao qual pertencemos. Chegados, agora sim, podemos contemplar o canhão da Estrela!

Ondas silenciosas

Sentados na beira de uma falésia vemos o oceano de nuvens na sua exponencia máxima, empoladas pelo vento frio e cortante que engata a 6.ª velocidade pelas encostas acima e fornece energia necessária a este mar para se movimentar. Os movimentos das nuvens, em vagas de ondulação imutáveis, fecunda a nossa inspiração e a nossa imaginação, nunca deixando o tédio apoderar-se de nós, enquanto navegamos este mar que tem de tudo menos de flat e repetitivo.

O que distingue este mar de nuvens do verdadeiro mar? O silêncio de tudo, só nós e o vento que ostenta as massas de nuvens, surfadas por aves de rapina que se deleitam, num jogo do gato e do rato, com as suas presas. O que falta aqui? Somente, o uivo dos lobos como farol, extinto neste território à mercê do Homem que o apezinhou até à extinção.

Terra que fica para trás.

De alma preenchida pela energia que emerge da Serra da Estrela, voltamos ao nosso veleiro. De âncora levantada, velas ao vento, fazemo-nos ao mar, como destemidos marinheiros que relutantemente olhamos para trás. A montanha, essa linda e soberana senhora, fica paulatinamente dúbia na visão, imutável, a aguardar pela nossa próxima vinda. Prometemos voltar, sempre que o vento for de feição…

NOTA IMPORTANTE: Nestes percursos, aconselha-se vivamente a visita com acompanhamento de guia.

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