O diamante em bruto da Serra da Estrela

Metemo-nos a caminho, à descoberta de um diamante em bruto em plena Serra da Estrela. Dá pelo nome de Argençana-dos-Pastores e está praticamente extinta.

diamante da Serra da Estrela
O diamante em bruto da Serra da Estrela - ©Nuno Adriano

O diamante em bruto da Serra da Estrela

Dar de frente com uma Argençana-dos-Pastores (Gentiana lutea) é um momento raro, exclusivo que se vive unicamente na Serra da Estrela. Uma relíquia da flora de montanha, praticamente extinta, mas que continua a lutar contra as adversidades do clima e da recolha ilegal. Foi com este tesouro em mente que partimos para sua descoberta, qual tesouro na ilha dos piratas. Será que tivemos a sorte do nosso lado?

Um rubi em forma de planta

A Serra da Estrela é pródiga nas suas espécies de flora e fauna únicas e imaculadas. O fator altitude, a sua geomorfologia própria e a sua localização regional, constrói, neste território, um conjunto de microclimas específicos que permitiu o surgimento ou a sobrevivência de espécies específicas, raras e extremamente sensíveis.

Foi com este ‘dever de missão’ que iniciámos uma caminhada de prospeção num fim-de-semana de Junho, onde o sol dizia ‘presente’, dando luz e cor inigualável, com um fim bem definido: encontrar, observar e estudar uma das plantas mais raras e exclusivas da nossa flora, que, embora não sendo endémica da Serra da Estrela, em Portugal só ocorre nesta cordilheira, em locais muito específicos e, para sua sorte, de difícil acesso.

Quem é a Argençana-dos-Pastores?

Devia ser uma bênção, um privilégio partilharmos este território com estes seres de propriedades ímpares. Como agente turístico, esta é a nossa forma de o promover: de forma sustentável, responsável e, acima de tudo, formativa. Só podemos e conseguimos proteger o que conhecemos e, como tal, pretendemos incutir a quem nos visita esta filosofia de estar em sintonia com aquilo que nos rodeia. É assim que somos, é assim que tudo fazemos para marcar a diferença.

Espécie de características únicas, representada no nosso território pela subespécie ‘aurantiaca’ típica de ambientes subalpinos e alpinos, esta planta de crescimento lento pode viver até aos 60 anos e começa somente a florir entre os 10 e 20 anos, dependendo das propriedades do solo, das condições climáticas e edáficas. Possui uma ampla aplicação medicinal, e foi (e ainda é, em certa medida,) alvo de recolha ilegal, pelas suas propriedades febrífugas e abortivas. O seu nome deriva igualmente do facto de ser utilizada para a cura da brucelose, uma doença diretamente ligada aos rebanhos e que pode afetar também os humanos.

Uma pepita em flor

Em ritmo de marcha, chegámos ao nosso destino. Um local convidativo, secreto (para evitar a sua recolha) que ostenta toda a imponência desta planta. Um dos nossos convidados a participar nesta jornada exclamou: “só esta planta pode escolher viver num local tão imponente, majestoso e belo como este!…”.

As estrelas nunca se apagam

O seu brilho é como ouro. Absorve o nosso olhar, capta a nossa atenção, arrasta-nos para que seja contemplada na sua totalidade e na sua total extensão. Ao sabor do vento, ela adapta-se ao milésimo de segundo, sem nunca perder a sua postura e a sua beleza. Sem lhe tocarmos estas espécies foram, muito provavelmente na sua longa vida, o alvo da maior sessão fotográfica e quem, obrigatoriamente, mais encandeou as nossas lentes. As estrelas são assim, brilham mesmo quando ninguém lhes pede, fazem desviar o nosso olhar quando passam por nós e fazem-nos engolir em seco quando olham para nós. É que as estrelas nunca se apagam…

Nota importante: Nos locais mencionados aconselha-se a visita com acompanhamento de guia.

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