Perfil Rock in Rio 2022 – Bruno Pernadas: “Decidi arriscar e ter a minha voz mais presente”

O aNOTICIA.pt esteve à conversa com Bruno Pernadas momentos após a sua estreia no Rock in Rio.

Bruno Pernadas no Rock in Rio
Perfil Rock in Rio 2022 – Bruno Pernadas: “Decidi arriscar e ter a minha voz mais presente” - ©Armando Saldanha (Aldrabiscas)

Pouco depois das seis da tarde, o Rock in Rio presenciou a maior cacofonia musical do festival: riffs de guitarra em ressonância eram intercalados por um improviso de trompete e saxofone, enquanto um sintetizador juntava tudo numa bolha cósmica e fantasmagórica. No palco do Rock in Rio estava Bruno Pernadas, o prodígio do jazz experimental, cujo seu génio era complementado pelos vários músicos que compunham o palco e o acompanhavam a cada nota. Esta tinha sido a primeira passagem de Bruno Pernadas no Rock in Rio Lisboa e o mote era o disco Private Reasons¸ que recebeu tanta aclamação aquém e além-fronteiras. Momentos depois de sair do palco, o aNOTICIA.pt fez-lhe algumas perguntas.

Apesar de ser a tua primeira vez no palco tão grande, a verdade é que o nome Bruno Pernadas tem vindo a ganhar notoriedade em fóruns de música internacional, que aclamam o teu trabalho. Tinhas conhecimento?

Tive conhecimento só há pouco tempo. Um colega meu chamou-me a atenção. Na altura não conhecia o site RateYourMusic, por exemplo, mas agora estou mais atento a isso. Na altura em que lançámos o álbum Crocodiles…, em 2016, já havia algumas críticas e análises do disco, que eu desconhecia. Ao longo do tempo, apercebi-me de que havia grande interesse por parte de muitos entusiastas, especialmente nos Estados Unidos. Aliás, os Estados Unidos são o país que mais compra os nossos discos físicos e digitais e são também o país que mais ouve a nossa música nas plataformas digitais de música. Portugal já teve em primeiro, mas agora está em quinto.

Há perspetivas para concertos nos Estados Unidos?

Há muito interesse, mas a logística é muito complicada para bandas europeias tocar no outro lado do oceano. Eu tenho a certeza de que vai acontecer, apesar de demorar mais tempo do que aquele que nós desejaríamos.

Este interesse acaba por se aliar a todo o conjunto de estilos que a tua música reúne. Fala-se muito em neo-psicadélica, jazz progressivo, experimentalismo. Estas são influências às quais te consegues rever?

Essas etiquetas…algumas deles…estão dentro de alguns estilos de música que eu oiço. Curiosamente, não oiço muito música psicadélica; mas no que diz respeito à música jazz de fusão, à música brasileira: são todos géneros muito adorados por mim e também pela minha banda.

Foste um estudante de música durante muito tempo e aprendeste esta arte de forma mais “académica”. Ao mesmo tempo, tinhas interesse em bandas como Sonic Youth e Pixies. Foi para ti necessário haver esta rutura da maneira mais institucional de como aprendias a música?

Eu sempre ouvi música variada. As bandas como os Pixies ou os Sonic Youth levam-me ao tempo da minha adolescência, que nunca deixei de ouvir. Estudei no meio académico, mas sempre continuei com projetos à parte de música que não tinha nada a ver com música clássica ou jazz. Penso que a um certo ponto estes mundos diferentes acabam por se encontrar e essa junção acaba por se ver na música que fazemos. Esta conjuntura é feliz.

Esta conjuntura vive hoje na tua música?

Sim, claro. Vive hoje e penso que vai sempre existir porque fez parte do meu percurso enquanto músico nas escolas, mas a tocar com outras pessoas, em grupos, em bandas, etc.

E este senso de comunidade, de tocares em várias bandas e com diversas pessoas, acaba por se ver hoje nos teus espetáculos, onde os músicos trocam de funções e instrumentos e cada um tem um papel fundamental. A ideia de música para ti sempre foi algo tido como um coletivo?

Sim. Hoje em dia, há mais propensão para haver momentos mais coletivos. No início, era tudo muito escrito. Nos primeiros concertos, talvez entre 2014 e 2017, a música ainda estava muito escrita, respeitava-se a maneira como a música tinha sido composta, as partituras, havia menos espaço para improvisação. Hoje há mais, muito mais.

O Private Reasons é fruto desse trabalho coletivo? Porque há aqui pela primeira vez uma projeção mais clara e direta da tua voz.

Na verdade, eu sempre cantei em todos os discos, apenas não era tão evidenciado. No disco Crocodiles…sentia que tinha pouca voz da minha parte, dependia mais da voz da Francisca, do Afonso e da Margarida. Neste último álbum, eu quis ter a minha voz mais presente porque às vezes sentia que a música gravada por outros cantores se afastava da minha ideia, das demos originais que eu fazia e tinha pena de não ter aquela sonoridade onde estava presente a minha voz. Neste último álbum decidi arriscar e ter a minha voz mais presente.

Estes anos depois, já consegues responder à questão de como é que conseguimos ser felizes num mundo cheio de conhecimento?

[risos] Penso que é uma pergunta para as pessoas pensarem, especialmente enquanto leem o livrete que vem com o livro. A pergunta foi feita para as pessoas que ouviam o disco olhassem para as imagens e pensassem sobre elas.

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