Douro e Tâmega: Territórios abençoados pela genuína gastronomia e pelos inconfundíveis vinhos verdes

Os territórios do Douro e Tâmega, proporcionam a quem por eles viaja, perceções sensoriais inesquecíveis a que não é alheia a gastronomia, e os vinhos verdes.

gastronomia no Douro e Tâmega
Douro e Tâmega: Territórios abençoados pela genuína gastronomia e pelos inconfundíveis vinhos verdes - ©Armando Saldanha (Aldrabiscas)

Abençoada por paisagens tão características que se tornam quase únicas, os territórios do Douro e Tâmega, proporcionam a quem por eles viajar, perceções sensoriais inesquecíveis a que não é alheia a gastronomia, e os vinhos verdes. Receitas antigas que passaram de geração em geração e por mãos delicadas que juntam o saber fazer ao gosto pelo que fazem.

Quem vier para esta região, esqueça as dietas. Quando nos sentamos à mesa, não é possível resistir às iguarias que nos colocam á frente. Só para dar um exemplo; Anho Assado, com arroz do forno – sim, falamos daqueles pratos a que chamamos de “pratos de aconchego”. Mas para a viagem gastronómica ser completa, que tal provar o fumeiro de Baião para começar e uma mão cheia de sobremesas para terminar em beleza? Claro que todas estas iguarias harmonizadas com bons vinhos verdes desta região “abençoada por Deus” ou do “Verde Sentido”.

Nesta viagem pelos territórios do Douro e Tâmega, já apaixonados pelo projeto “Roteiro Enogastronómico Verde Sentido” que juntará um conjunto de experiências turísticas, únicas e distintivas, associadas aos Vinhos Verdes e alicerçada nas paisagens, produtos endógenos, gastronomia, tradições e costumes do território, chegamos a Mondim de Basto, para jantar.

Por territórios do Douro e Tâmega na descoberta da genuína gastronomia e dos incomparáveis vinhos verdes

Céu da Boca Bistrô – Mondim de Basto

O local escolhido bem no alto do Casco Velho, foi o Céu da Boca Bistrô. Quando entramos é como se fizéssemos uma viagem no tempo. Lá dentro, a decoração transporta-nos para os anos 60 e 70, e até a música ambiente, escolhida com muito bom gosto pelo proprietário – o Luis – remete-nos para essa época.

A Susana, apaixonada pela cozinha tradicional, confeciona vários petiscos, sempre com produtos da época e locais, que vai trazendo para a mesa. Um conceito inovador, que apresenta o sabor tradicional português com a alma de quem gosta de cozinhar, que fez desta casa o espaço ideal para reuniões de amigos e tertúlias.

As refeições preparadas na hora, combinam os melhores ingredientes que se traduz em pratos simples e verdadeiros, harmonizados com o melhor vinho verde da região.

Como entrada tivemos direito a uma da lousa cuidadosamente ornamentada, com cogumelos recheados, pimentos, melão e presunto, tiras de frango com molho agridoce, e umas deliciosas pataniscas. Seguiram-se uns secretos com ananás, uma alheira indescritivelmente boa com puré de maçã e bochechas com puré de abóbora e feijão verde. O vinho servido durante o jantar, foi um elegante e equilibrado verde Quinta da Raza Alvarinho, Trajadura, Grande Escolha 2021, cuja frescura e sabor frutado acompanharam na perfeição a refeição.

Por fim, a sobremesa da casa: Milhos doces. Uma recriação de Susana de um tradicional puré de milho branco, que normalmente acompanha as carnes, mas que ela transformou em sobremesa. Para harmonizar Dom Diogo Padeiro, um vinho verde rosé produzido também pela Quinta da Raza, cujo sabor intenso a frutos silvestres combinam com a doçura do prato.

No Céu da Boca Bistrô, não só a comida é boa, como o espaço é acolhedor e os anfitriões uma simpatia. Quisemos ter mais tempo para ficar à conversa com o Luis e a Susana, mas a noite já ia avançada e o dia seguinte prometia ser longo. Saímos com a promessa e a vontade de voltar!

Casa da Tojeira

No dia seguinte rumamos à Casa da Tojeira, em Cabeceiras de Basto. Situada numa propriedade privada no Parque Nacional Peneda-Gerês, esta bela mansão do século XVII combina luxuosas comodidades modernas com o encanto e o fascínio dos tempos idos.

Esta casa senhorial do século XVII dispõe atualmente de 7 quartos tendo todos eles casa de banho privativa, minibar, telefone, aquecimento central e um amplo salão com lareira. Dentro da mesma herdade existe a Casa da Herdade que possui 5 juniores suites com casa de banho privativa, televisão, minibar, telefone, aquecimento central, kitchenette e salão com lareira.

A Casa da Tojeira tem vinte hectares de vinha, com castas alvarinho, trajadura, loureiro (casta protegida na região de vinhos verdes), azal, arinto, chardonnay, vinhão, padeiro de basto, pinot noir, entre outras, produzindo vinho verde branco, tinto, rosé e espumante.

A aposta da Casa da Tojeira tem passado por experiências turísticas de curta duração, que o espaço e a vinha permitem, entre jantares vínicos, dia de portas abertas, caminhadas e tours culturais e sunsets, para além da aposta no turismo local, com ocupação que ronda os 95% nos meses de julho a setembro, potenciado pelas características únicas do espaço e pela beleza da região.

As propostas enoturísticas passam por um menu de degustação que inclui não só a refeição harmonizada com vinhos verdes e espumantes, como também visitas às vinhas e à Casa da Tojeira, que conta com museu de armamento e capela. Acrescem ainda as diversas provas de vinhos, de experiências premium, em provas onde o vinho verde branco Tojeira e o vinho verde Rosé Tojeira imperam, acompanhados de produtos regionais, das tostas com mel ou das sopas de vinhos, que apuram sentidos.

O Paço Restaurante & Garrafeira

Estava na hora de almoço, e embora o apetite não fosse muito depois da experiência de degustação que tínhamos feito na Casa da Tojeira, dirigimo-nos ao restaurante O Paço Restaurante & Garrafeira, em Arco de Baúlhe.

Em plena região de Basto, Arco de Baúlhe foi, durante mais de quatro décadas, a estação términus da deslumbrante Linha do Tâmega, meia centena de quilómetros de curvas e pontes desde a Livração na linha do Douro. O último comboio chegou a Arco de Baúlhe em 1990, ano em que o troço final da linha, a partir de Amarante, foi encerrado.

Nos territórios do Douro e Tâmega, o Paço Restaurante & Garrafeira é um destino imperdível onde os amantes da gastronomia podem saborear o que de melhor a cozinha tradicional oferece, abrindo as portas às principais regiões vinícolas de Portugal, onde o vinho verde é rei. No espaço interior, que se estende por duas salas no piso térreo, a valência de garrafeira está bem presente na acolhedora e sugestiva antecâmara, em linha com o bom gosto da decoração.

As propostas gastronómicas, servidas em louça de ferro fundido e bases de madeira, passam pelo arroz de grelos com polvo panado, pelo bife de vitela com batata frita, com entradas exímias, dos camarões às favas, do presunto aos cogumelos e termina com sobremesas celestiais, das rabanadas ao doce de noz, ao Tentúgal, sem esquecer os codornos (variedade de pera).

Ao longo do almoço, provámos, vinhos verdes, branco alvarinho e arinto, para as entradas, tinto vinhão para os pratos de carne e rosados para as sobremesas, numa harmonização simples, mas muito bem conseguida.

Quinta da Chouza Agroturismo e Enoturismo – Celorico de Basto

Da parte da tarde rumamos à Quinta da Chouza Agroturismo e Enoturismo. Esta quinta dispõe de uma envolvente única. É atravessada por um Ribeiro, possui uma pequena praia fluvial, com margens relvadas e dois moinhos de água recuperados em casas de habitação, com lindas quedas de água e lagoas, rodeadas de bosquetes devidamente ordenados, que convidam ao sossego em harmonia com a natureza.

A Quinta da Chouza, está situada na sub-região de Basto dos Vinhos Verdes, com o privilégio de ser um espaço bafejado por um terroir natural e idílico para a obtenção de vinhos brancos e espumantes de elevada qualidade, com marca CHÃO DO RIO.

Os vinhos aqui desenhados revelam uma acidez destacada, envolvidos em notas florais firmes com uma tenacidade a fruta cítrica, que em conjunto, lhes conferem elegância e harmonia. A produção é de cerca de 9000 garrafas ano, com casta arinto, alvarinho, trajadura, padeiro, em verdes e rosés, escolha e premium.

O processo de vinificação é desenvolvido na adega da quinta, dotada da tecnologia necessária para procurar respeitar e preservar os métodos mais adequados na elaboração de vinhos verdes, que tanta fama granjearam.

A enoteca/sala de provas da Quinta da Chouza acolhe provas comentadas, provas verticais dos vinhos Chão de Rio, entre outras iniciativas levadas a cabo para divulgação do vinho, complementadas como visita à quinta, à vinha e as suas castas e à adega, com momentos vínicos que se pretendem exclusivos e enriquecedores.

 As experiências vínicas podem ser aliadas à degustação dos produtos típicos da região, onde não faltam os enchidos e queijos. Aqui provámos os bolos regados com licor de camélia.

Destacamos que Celorico de Basto é conhecido pelos seus jardins de camélias (ou japoneiras), com festa dedicada, há 17 anos, no terceiro fim de semana de março. Entre camélias de chá e camélias ornamentais que abundam nos solares de Celorico, com uma arte ancestral, surge o doce “flor de camélia”, que tem por base a massa do pão de ló regada com licor de camélia.

Celorico de Basto, pretende apresentar uma proposta para que lhe seja atribuída a marca “Capital das Camélias e Solar de Vinhos Verdes”.

Amarante

O sol já se punha, quando chegamos a Amarante. Um passeio a pé pelo centro histórico de Amarante, terra de Teixeira de Pascoais, de Amadeu de Souza Cardoso ou de Agustina Bessa-Luis foi, por si só um ótimo aperitivo para o jantar.  

Não resistimos aos afamados doces conventuais harmonizados com o vinho velho Quinta da Calçada, a «parcela mais antiga da região dos Vinhos Verdes» da Região Demarcada de Vinhos Verdes, que enaltece o sabor das lérias, dos foguetes, dos papos de anjo, do bolo de S. Gonçalo ou das Brisas do Tâmega.

O jantar foi na Quelha – Adega Regional, onde encontramos um ambiente rustico e acolhedor. A comida é a tradicional da região. Apenas a harmonização do vinho não foi a adequada ao saboroso galo assado, que foi servido.

Quinta do Outeiro

Pernoitámos na Quinta do Outeiro, uma casa senhorial do século XVII, maravilhosamente restaurada, situada no coração do Vale do Douro.  Esta propriedade com cinco hectares de cultivo, envolta por belas paisagens vinícolas, oferece várias opções de alojamento.

Todos os quartos têm a designação de uma casta de vinhos produzida na região. O nosso foi o quarto Loureiro. Amplo e bem decorado a janela abre-se sobre a piscina e as vinhas bem cuidadas. 

O espaço conta ainda com três casas separadas. Duas delas, com lotação para seis pessoas e outra para 10 pessoas.

Na manhã seguinte visitámos esta propriedade, inaugurada em 2014, com vinha, olival, bosques, capela, adega e jardins, com propostas turísticas premium, num espaço sofreu obras de reestruturação e de remodelação, durante sensivelmente 15 anos, na casa principal e nos edifícios adjacentes.

Um dos edifícios, o Salão Rocaille, é um espaço imponente, preparado para grandes eventos, onde o requinte e a modernidade se aliam. Está previsto, em breve a abertura de um restaurante, para comodidade dos hóspedes, mas aberto ao público em geral.

Uma nota muito especial para o jardim histórico, datado de 1906, com canteiros e relvados cuidadosamente concebidos, com um miradouro, uma gruta e um lago que o tornam num espaço bastante distintivo, revestido em alguns locais com calçada à portuguesa.

Os vinhos produzidos na Quinta do Outeiro, são produzidos desde 2016, com produção influenciada pela localização da vinha, entre a Região Demarcada dos Vinhos Verdes e a Região DOC Douro. Os vinhos Rocaille, nome de origem francesa numa alusão aos jardins históricos da Quinta, são vinhos de elevada qualidade, numa combinação de castas roriz, sousão, sauvignon, syrah, chardonnay, arinto e loureiro, com produção anual de aproximadamente 30 000 garrafas.

O cuidadoso processo de vinificação, com equipamentos e técnicas estudados e aplicados ao mais ínfimo pormenor, resultam em vinhos “ricos em aromas e sabores”.

Não podíamos deixar Resende sem provar as famosas cavacas de Resende. Doce típico com primeira referência em 1890 e com uma lenda associada à sua origem, que inclui um bolo guardado no tempo, partido e regado, mais tarde, com uma calda feita de açúcar, farinha e água para o tornar mais macio. O doce é cozido em forno a lenha e partido à mão.

Esta delícia da doçaria tradicional, conhecida desde tempos imemoriais, ainda é feita, por regra, à moda antiga, mexida à mão e cozida nos fornos alimentados a lenha, tal como faziam no tempo dos nossos avós. Mas, não se iludam os que tencionam confecionar esta iguaria, pois, para além de a tradição ser um dos segredos do sucesso, há quem afirme que as Cavacas são um doce fino que só as mulheres de Resende o sabem fazer.

Para harmonizar, nada melhor que um verde branco Fontaltas Namora ou um vinho rosé Encostas do Formigal, numa combinação de regiões demarcadas que se cruzam em Resende.

Resende é ainda terra de cerejas, com festival dedicado, no fim de maio ou início de junho. Sendo a região com maior produção de cerejas, os produtores promovem uma série de atividades em torno deste fruto, incluindo a participação na apanha da cereja, para quem os queira visitar nessa época.

Baião

Na descoberta da gastronomia e dos vinhos verdes por territórios do Douro e Tâmega, seguimos de Resende para Baião, onde almoçamos na Pensão Baião. Convidados a sentarmo-nos na sala de refeições, deixámo-nos surpreender pelo menu que reflete a riqueza e a tradição da cozinha regional portuguesa. Os ingredientes são preparados cuidadosamente para preservar o seu sabor natural e proporcionar uma experiência gastronómica inesquecível.

Aberta desde 1934, a Residencial Borges é um ícone de Baião. Seja pelos seus 13 quartos muito acolhedores, seja pelo restaurante de comida regional. Durante a semana têm sempre um prato do dia diferente. Quando chega ao sábado, é impossível resistir ao Cozido à Portuguesa! Já ao domingo, a tradição é o famoso anho assado …. uma verdadeira preciosidade da gastronomia por estas terras do Douro e Tâmega

Para nosso gaudio, as entradas, de peixinhos da horta (simplesmente deleiciosos), cogumelos recheados, alheiras, pastelão de salpicão e bolinhos de bacalhau regados com um rosé Duas Margens cuja tonalidade e sabor casaram na perfeição com os petiscos.

O anho assado em forno de lenha, com batata assada e arroz de forno foi acompanhado por um vinho Patacão, com casta avesso, de aroma frutado e fresco.

Já para a sobremesa, uma mistura angelical de fruta natural e fruta assada, com bolo de amêndoa e gelado, foi harmonizado com um verde Tormes, da Fundação Eça de Queiroz em parceria com a Lima & Smith, de frescura inigualável, num aroma jovem e intenso, da sub-região de Baião. 

Quinta de Santo António – Country House & Villas – Marco de Canaveses

A nossa última paragem foi em Marco de Canaveses na Quinta de Santo António – Country House & Villas. Localizado no Torrão, “onde o rio Tâmega se encontra com o rio Douro”, este hotel rural foi construído tendo como base uma casa do século XIX.

Inaugurado em 2020, este complexo turístico, banhado pelo rio onde a tradição e a modernidade ocupam o mesmo espaço, para experiências turísticas únicas, que passam por passeios de barco ou piqueniques na vinha.

A Quinta possui dez vilas e doze quartos no edifício principal, com zona de restauração própria, para hóspedes e público em geral, e espaço dedicado para grandes eventos.

Com uma oferta intimamente ligada à natureza e à ruralidade pode usufruir dos rios Douro e Tâmega para a prática de atividades náuticas, pode partir à descoberta de monumentos e belos recantos bem como conhecer as tradições das gentes do Marco de Canaveses.

A vinha ocupa cerca de 1,5 hectares. Alvarinho, arinto, loureiro e fernão pires são as castas predominantes na Quinta de Santo António. Os responsáveis contam ter produção própria para consumo na Quinta, no próximo ano e uma adega a construir a breve trecho, num projeto que aposta essencialmente no enoturismo.

O restaurante Olivietto e o Foz Hotel Bar são dois dos espaços abertos à comunidade, com o melhor da cozinha duriense, sempre harmonizada com os vinhos verdes da região.

Por agora ficamos por aqui dada a extensão do texto … mas, ainda temos de vos falar dos Vinhos. Prometemos, num próximo artigo, continuar e revelar o que não deve mesmo perder nos territórios do Douro e Tâmega em termos de gastronomia e vinhos verdes.

Artigo relacionado com os territórios do Douro e Tâmega, seu património, gastronomia e vinhos:

Pelo Douro e Tâmega vivendo mil e uma experiências únicas em terras dos Vinhos Verdes