A transição de um país, para outro, durante a adolescência pode ser desafiadora, mas também representa uma oportunidade de crescimento. Manuel Soromenho Águas, nascido em Lisboa, vivenciou essa experiência ao mudar-se para Cáceres, em Espanha, aos 14 anos.
Cáceres, sendo uma cidade pequena, com um ritmo de vida diferente do de Lisboa, deu a Manuel a oportunidade de se reinventar e de se adaptar a novas circunstâncias. A mudança não apenas contribuiu para o seu desenvolvimento pessoal — através da aprendizagem da língua espanhola e da construção de laços de amizade — mas também fortaleceu a conexão familiar, criando uma base sólida de apoio mútuo entre os membros de sua família.
A paixão de Manuel Soromenho Águas pela culinária começou cedo, em momentos simples e quotidianos. Ainda uma criança, aos 9 ou 10 anos, já preparava as suas próprias refeições em casa, uma vez que a comida da cantina escolar não lhe agradava e a empregada da família não sabia cozinhar. Nessas alturas, Manuel optava por pratos rápidos e descomplicados, como ovos mexidos e salsichas. Com o tempo, começou a experimentar receitas um pouco mais elaboradas, como massas com natas, que servia aos primos mais novos durante os jantares em família.
Essa habilidade e gosto pela cozinha intensificaram-se ao longo da adolescência. Já em Cáceres, quando ficava sozinho em casa aos fins de semana, reunia amigos da equipa de rugby onde jogava e preparava pratos como o tradicional bacalhau à Brás, conhecido por eles como “bacalhau dourado”. A cada prato, Manuel aprimorava-se, inspirado pelos programas de culinária, especialmente pelo Masterchef Austrália.
Quando os exames do 12º ano, lhe correram mal o incentivo da família para expandir horizontes ganhou força. Sua mãe, que havia se mudado para a Inglaterra na mesma idade para completar os estudos, sempre sugeriu que Manuel fizesse o mesmo. “Após o fracasso nos exames, finalmente senti que era o momento certo para tomar essa decisão, e a Inglaterra passou a ser o próximo destino da minha vida” referiu Manuel Soromenho Águas.
O plano inicial era estudar hotelaria e produção alimentar, mas, por uma coincidência, sua mãe conseguiu uma oportunidade na costa sul da Inglaterra, onde começou a trabalhar como empregado de mesa. Sem experiência, teve que aprender desde o básico, mas sua dedicação e vontade de crescer abriram portas para a cozinha, sua verdadeira paixão. Nesse período, Manuel passou mais de um ano adquirindo experiência, aprendendo técnicas e consolidando o seu interesse pela culinária.
No entanto, a trajetória na Inglaterra foi interrompida por um problema familiar: sua mãe tinha adoecido. Sentindo que não era justo estar longe de casa, enquanto a família enfrentava esse problema, Manuel decidiu regressar a Portugal. “De volta a Lisboa, encontrei uma nova oportunidade de crescimento ao ingressar na equipa do renomado chef José Avillez, onde pude desenvolver mais as minhas valências e aprofundar os meus conhecimentos, principalmente em organização e logística de uma grande empresa de restauração.”
Surgiu então a oportunidade de se juntar ao grupo liderado por Joana e Pedro Neto Rebelo, assumindo o papel de chef executivo em vários restaurantes, como o Espada, a Taqueria, o Tutto Passa e o mais recente, O Tráfico. “Neste momento, é onde me sinto realizado! É um trabalho intenso, mas muito estimulante. Coordenar e inovar os cardápios dos diversos restaurantes exige uma pesquisa constante, criatividade e atenção aos detalhes, para que cada prato represente o melhor de cada conceito.”
Este é Manuel Soromenho Águas, jovem chef de 27 anos, com olhos claros e um brilho travesso, que reflete sua paixão e curiosidade pela gastronomia do mundo.