Terras Sem Sombra – um projeto cultural total


No passado dia 11, teve inicio o festival “Terras sem sombra”, um festival que para além promover e divulgar a musica, se associa a ações de voluntariado que incidam na salvaguarda da biodiversidade, das várias regiões, por onde passa.

Este ano, promove também passeios pelos centros históricos das povoações, onde decorrem os concertos, com visitas a monumentos religiosos, muitos deles normalmente encerrados ao publico. A iniciativa é descrita por José Antonio Falcão, diretor geral do Festival, como “Um grupo de amigos que apresenta a sua terra a outros amigos”

Foi o que aconteceu no sábado passado em que mesmo com muita chuva e frio, visitámos o centro histórico de Almodôvar, vila onde decorreu o concerto de inauguração do “Terras sem Sombra”.

Começamos pelo Convento Nossa Senhora da Conceição, convento franciscano masculino, pertencente a Ordem Terceira de S. Francisco, fundado em 1680, por Frei Evangelista com a doação de todos os bens de Fernando Guerreiro e sua irmã Barbara de Alvellos. Pertence atualmente à Camara Municipal de Almodôvar.

Este pequeno convento que é uma referência do património religioso do baixo Alentejo, tem uma igreja barroca com altares de talha dourada. Na Capela-mor podemos apreciar o teto com pinturas representando a Assunção aos Céus da Imaculada Conceição e quadros com motivos religiosos com especial destaque para o de um presépio e de dois alusivos ao Casamento da Virgem Maria com São José.

Por baixo existem dois extensos painéis de azulejos da época.

Na zona do coro alto, existe um órgão de tubos de estilo oriental, que neste momento está a ser restaurado. Um órgão deste tipo não era comum existir num convento tão singelo como este. De acordo com as palavras de Jose Antonio Falcão isso deveu-se à muita atenção que foi dada à cultura a arte e à música neste convento, tendo existido neste local uma escola de música.

Como o relógio não pára, apressámo-nos em direção ao museu Severo Portela, onde em tempos estiveram instalados os Paços do Conselho e a prisão que funcionou até ao 25 de Abril. Consta, nas intemporais lendas, que, neste edifício pernoitou D. Sebastião, aquando da sua passagem por Almodôvar, a 8 e 9 de Janeiro de 1573, em viagem pelo Alentejo e Algarve. Com a mudança dos Paços do Concelho para o Convento de S. Francisco foi, o primitivo edifício, transformado em cadeia. Atualmente, está instalado neste edifício o Museu Municipal, dedicado a Severo Portela.

O museu alberga parte do espólio artístico do pintor Severo Portela que, apesar de não ter nascido em Almodôvar, deu importante contributo para o desenvolvimento artístico da terra.

Neste museu podemos ainda apreciar a exposição “Sapateiros – memórias de um oficio” que homenageia todos os sapateiros de Almodôvar, outrora conhecida como terra de sapateiros e onde surgiu nos anos 40 o Sindicato dos Sapateiros do distrito de Beja.

Contou-nos António Bota, Presidente da Camara Municipal, que era comum, irem pessoas de todo o Alentejo, à feira de Almodôvar encomendar sapatos, e irem buscá-los na feira seguinte. Contudo foi uma arte que se foi extinguido, havendo hoje, apena dois ou três sapateiros na vila.

E em passo de corrida, até porque a chuva teimava em cair, subimos a rua em direção ao museu da “Escrita do Sudoeste”.

Num edifício de arquitetura contemporânea, perfeitamente integrado no núcleo antigo da vila de Almodôvar, este museu pretende ser um polo dinamizador para o estudo e salvaguarda de um património único – A Escrita do Sudoeste Peninsular.

Este espaço expositivo nasce como resposta da Câmara Municipal de Almodôvar à necessidade de proteger, estudar e divulgar estes monumentos, uma vez que o concelho se situa numa das áreas em que é maior a concentração de epígrafes com esta escrita.

Aqui começava a fabulosa viagem pelo desvendar do mistério da mais antiga grafia da Península Ibérica, no apaixonante universo cultural que é o nosso Alentejo.

No museu estão reunidos os testemunhos mais importantes da escrita utilizada pelos Tartessos, um povo que viveu, durante a Idade do ferro e que prosperou entre os anos 1000 e 500 antes de Cristo. Existem muitas dúvidas sobre o local onde se estabeleceu a capital dos Tartessos, como também em relação a outros momentos da vida deste povo ibérico.

Dos testemunhos físicos o que se conhece melhor é a escrita gravada na pedra, vestígios que são especialmente ricos no Alentejo. Entre as peças que se encontram no museu está uma estela de grande dimensão que é também das mais ricas em termos de escrita.

Quando acabamos esta visita, já pouco tempo havia para nos preparamos para o concerto que se ia realizar na Igreja de Santo Ildefonso.

A tarde tinha passado sem darmos conta, muito por culpa dos nossos anfitriões (Jose Antonio Falcão, Rui Cortes, Antonio Bota) que nos souberam prender a atenção para todos estes assuntos tão interessantes, tão peculiares e tão desconhecidos da nossa terra.