Mata do Bussaco – um bosque sagrado que nos aproxima da transcendência da natureza.

Paredes meias com o Luso (cerca de 2 kms), encontramos o Parque Florestal do Buçaco, classificado como Monumento Nacional em Portugal. O parque amplamente elogiado por botânicos de toda a Europa é composto por uma floresta densa, com muitos séculos de idade, onde as árvores são de estatura gigantesca e ricas em essências, fragrâncias e brilho.

Várias iniciativas estão a decorrer para dar a conhecer aos portugueses este património
Mata do Bussaco - ©Aldrabiscas

O Bosque do Bussaco, como também é chamado, está rodeado por um muro alto com onze portas de entrada, construído pelos monges da ordem dos Carmelita Descalçados, que em 1862 tomaram conta da floresta e construíram o mosteiro. Seja qual for a escolhida como ponto de partida para um passeio pela Natureza, encontra-se a exuberância serena, quase mágica, da intensa cor verde do Buçaco.

Ao longo dos séculos, os monges e os silvicultores do governo que os sucederam plantaram cerca de 400 variedades portuguesas de árvores, arbustos e flores, importando cerca de 300 espécies de lugares tão distantes como o México, o Chile e o Japão, e de muitos outros locais em todo o mundo.

Hoje, este magnifico espaço, é gerido pela Fundação Mata do Bussaco e passa pela preservação do importante património, inserto na Mata Nacional do Bussaco, para além de desenvolver as suas potencialidades, como a conservação do património natural e cultural, a investigação florestal, a educação ambiental e as atividades turísticas e de lazer. Compete ainda à Fundação gerir de forma integrada o património florestal, histórico, cultural, religioso e militar que coabita de forma particularmente rica e diversificada na Mata Nacional do Bussaco.

Para o presidente da Fundação, o “Compromisso do Bussaco” tem na sua génese “uma cooperação entre entidades público-privadas”, bem como criar e fortalecer uma maior articulação entre a administração central e a local, salientando o espírito de intermunicipalidade existente entre as três Câmaras locais. “Muitas vezes o demónio não é a espécie A ou B, mas o absentismo e a falta de gestão da floresta”, acrescentou.

António Gravato, lamenta que só este ano é que a Mata do Bussaco tenha sido classificada como monumento nacional. Referindo, “Não sendo monumento nacional, não tínhamos acesso a fundos comunitários, ficávamos numa 2º. linha de candidatura aos fundos.  Não foi o caso deste ano, daí as obras que se estão agora a fazer”.

Segundo explicou, só no Convento de Santa Cruz, a sofrer obras de restauração, serão investidos cerca de quinhentos mil euros (85% financiados por fundos comunitários – Programa Centro 2020), assim como nas obras a realizar nas capelas dos Passos da Via-Sacra, onde serão investidos aproximadamente trezentos mil euros (56,78% financiados por fundos comunitários).

É este património, agora reconhecido como monumento nacional, que a Fundação Mata do Bussaco e a autarquia da Mealhada está a candidatar a Património Mundial da UNESCO. Um galardão que António Gravato, pretende que seja uma das maneiras de chamar mais pessoas a este local que anualmente recebe cerca de 275 000 visitantes, o que faz com que seja o 2º monumento nacional mais procurado da região centro, só suplantado pela Universidade de Coimbra.

Relativamente ao flagelo dos incendidos que ultimamente têm atingido o país, a Mata do Bussaco, não tem sido particularmente afetada, uma vez que reúne um conjunto de características que reduz esse perigo como sendo a abundancia de água, solos férteis e a existência de arvores de grande porte. De qualquer forma como António Gravato salienta “há os fogos importados…o do ano passado, passou numa latitude superior à nossa. Foi o que nos salvou. Mas há outros tipos de fogos. Há dois anos atiraram uma tocha a arder cá para dentro. Há sempre mentes criminosas, que temos de prestar atenção. A grande ameaça não está dentro da mata, mas sim fora da mata. Para isso em conjunto com os três municípios – Mealhada, Mortágua e Penacova –  para nos precavermos contra essas situações estamos a criar uma brigada de sapadores intermunicipal, a primeira que vai haver no país, para intervirem no espaço exterior da mata a sul e a leste na perspetiva de salvaguardar a mata” e explica “Ganhamos essa candidatura, está a decorrer esse processo. Estive a fazer entrevistas a pessoas para sapadores. É difícil arranjar pessoas, digo já. Depois de termos a nossa equipa, que vai estar sediada numa casa de guarda na Cruz Alta, depois disso acontecer, eu já durmo descansado”

Várias iniciativas estão a decorrer para dar a conhecer aos portugueses este património que é de todos e para o qual todos devem contribuir. A necessidade de preservação do meio ambiente e da reflorestação do meio ambiente, levou a Fundação a convidar figuras publicas portuguesas e estrangeiras a “criar raízes” na Mata Nacional do Bussaco, a única floresta pública portuguesa a receber a certificação FSC (gestão florestal ambientalmente adequada, socialmente benéfica e economicamente viável).

Pedro Abrunhosa, Marisa Liz, Assunção Cristas, José Cid, Rui Reininho, Sofia Aparício, Rui Veloso, Luís de Matos, Luís Represas, José Luís Peixoto, Dina Aguiar, Paula Magalhães e Carla Andrino foram apenas algumas das figuras públicas nacionais que plantaram recentemente árvores no Bussaco. Também uma equipa de futebol dos Emirados Árabes Unidos e um grupo de investigadores chineses, acolheram a iniciativa com entusiasmo deixando aqui algumas das suas ‘raizes’.

Para quem queira partir à descoberta da Mata do Bussaco, existem seis percursos pedestres, devidamente identificados. O Vale dos Fetos onde se pode refrescar nas inúmeras fontes espalhadas pela cerca, as imponentes portas da cerca ou as ermidas construídas pelos Carmelitas Descalços, que se erguem em perfeita harmonia com o arvoredo. Fazer os passos de Cristo na Via Sacra, a única no mundo igual à de Jerusalém, subir ao Miradouro da Cruz Alta e por fim visitar o Museu Militar.

Depois de percorrer os caminhos da montanha, descanse no Bussaco Palace Hotel, um dos mais belos edifícios neo-manuelinos de Portugal, ou visite o Convento de Santa Cruz, onde o General Wellington passou a noite durante a Batalha do Bussaco.

Nada melhor para definir a Mata do Bussaco que as palavras de José Saramago, na sua “Viagem a Portugal”: “A mata do Buçaco requer as palavras todas e estando ditas elas, mostra como ficou tudo por dizer….. O melhor é perder-nos nela”