4ª Gala Equestre – Uma noite repleta de arte e amor pelo próximo

Realizou-se na passada sexta feira, na Praça de Touros José Salvador, em Tomar, a 4ª Gala Equestre, um evento solidário, que, desde a sua primeira edição, conta com a participação da Escola Equestre Vítor Rodrigues.

Escola Equestre Vitor Rodrigues
4ª Gala Equestre - ©Aldrabiscas

Este ano os fundos reverteram para a Associação de Saúde Mental do Médio Tejo. Uma instituição criada em 17 de julho de 2013, fruto da ‘carolice’ de algumas pessoas. Em março de 2016 assumiu a forma de IPSS sendo uma das únicas Associações da Área do Médio Tejo que dá apoio à saúde mental.

Rute Galvão, presidenteda Associação de Saúde Mental do Médio Tejo, era visivelmente uma mulher feliz. Se para a Associação iniciativas de cariz solidário como a Gala Equestre são vitais, não menos importante foi o de momentos antes de falar com o aNOTíCIA.pt, ter tido conhecimento de que a Associação havia sido reconhecida, pela ARS, na rede nacional de cuidados integrados de saúde mental.

“Vamos ter a curto prazo, isto quer dizer em 2019, a primeira resposta nos termos da Rede Nacional de Cuidados de Saúde no Médio Tejo na vertente de apoio domiciliário ….. vai possibilitar reabilitar o doente mental dentro do seu seio familiar, dentro da sua casa.”

“Vai-vos parecer um número irrisório, mas as equipas só podiam ser para 8 utentes, e a Associação candidatou-se para duas equipas domiciliarias e foi uma proeza termos sido aprovados com dois projetos. Portanto o projeto vai alcançar duas equipas domiciliarias, uma no concelho de Tomar e uma no concelho de Ourém, portanto vamos ter duas equipas, dezasseis doentes, a apoiar em simultâneo.” Concluindo “Eu sei que isto é um número muito ínfimo, para aquilo que necessitamos, mas é um projeto piloto e conseguir estar nestes primeiros projetos pilotos já é uma grande valia”.

Perante a felicidade estampada no rosto de Rute não resistimos em tentar perceber o que é presidir-se a uma instituição como esta “ser presidente de uma Instituição deste tipo, no atual contexto nacional, não é fácil. É muito difícil, eu penso que o associativismo em Portugal só vai sobrevivendo, seja em que modalidade for, com muita solidariedade todas elas, na área da saúde mental, ainda com mais dificuldade, porque há um grande estigma envolto na doença mental.

Ainda há um estigma que o doente mental não é capaz. Não é uma pessoa válida na sociedade. Pelo contrário e, é isso que a Associação tem vindo a quer mostrar no trabalho na comunidade, que estas pessoas são válidas, todos os dias, São pessoas que vivem integradas em comunidade e não em instituições como no passado” concluiu Rute Galvão.

Fazer o bem sem olhar a quem é um dos lemas de Carlos Piedade Silva, um dos principais impulsionadores e membro da organização deste evento desde o primeiro momento. Ao ser por nós abordado sorri e confessa viver “um dia de felicidade porque sei que estamos a ajudar as pessoas. Como já disse a alguma comunicação social, não há convidados especiais, convidados especiais são aqueles que pagam o seu bilhete, que querem ver o espetáculo e ao mesmo tempo estão a ajudar quem tem necessidade.”

Quisemos perceber como é possível montar um espetáculo daquelas dimensões. Carlos, explica que apenas é possível porque há “um grupo de amigos encabeçado por Vítor Rodrigues, o homem dos cavalos, que com os seus alunos e com a sua família tem muito empenho e muito gosto em fazer alguns eventos solidários …… os miúdos, desde pequenos, andam na escola, aprendem a ser solidários, democráticos e ajudam quem tem necessidades. Hoje é mais um dia, digamos feliz, para quem gosta do próximo, porque toda a receita angariada, é para ajudar efetivamente quem precisa de nós, neste caso os doentes mentais.

No final desta Gala Solidaria em que participaram jovens alunos da Escola Equestre Vitor Rodrigues, alguns deles portadores de deficiências como a Trissomia 21, o mentor de toda esta festa, emocionado e segundo nos afirmou “sem condições para falar”, acabou por confidenciar “é um ano a trabalhar e depois há as dificuldades. Os alunos têm a escola, têm as férias, não têm muito tempo para treinar. A escola em si tem continuidade e é o ano todo. A gala vai-se trabalhando durante o ano. Mas tudo isto sai de mim, sai das minha ideias, as coreografias, treinar os cavalos, ensinar os cavalos. São todos cavalos criados na escola. Só dois não o são. Todos os outros já nasceram na escola.”

Orgulhoso do trabalho efetuado refere o facto de os participantes serem alunos da Escola “que começam lá, do zero e é um privilegio trabalhar com estas pessoas. Embora jovens, alguns com 6, 7 anos, já estão aí a trabalhar e a participar na gala com o espírito de ajuda ao próximo. É para isso que nós trabalhamos. Hoje é muito difícil criar um ser humano.”

Mas se para Mestre Vítor Rodrigues as iniciativas de cariz solidário são fundamentais, ele não consegue esconder o que para si representa a Escola Equestre Vítor Rodrigues e a ligação que tem com esta Gala “Esta escola tem também uma vertente terapêutica. Faço terapia adaptada e tenho pessoas com varias patologias, desde hiperativos, trissomia 21, autistas e nós com muitas dificuldades conseguimos pô-los a trabalhar nesta gala e temos casos de alguns elementos que não tinham equilíbrio, mas com algum trabalho conseguimos ultrapassar essas dificuldades e aí estão eles a equilibrarem-se em cima das montadas”. Visivelmente exausto, mas irradiando felicidade, Vítor Rodrigues conclui “o dinheiro não é tudo e o carinho das pessoas, fazem-me realmente uma pessoa feliz.”

Um dos momentos mais emotivos desta 4ª Gala Equestre, foi a homenagem prestada a Luís Boavida, um dos maiores impulsionadores desta iniciativa solidaria, falecido recentemente.