Entre Loriga e Cabeça, uma força de atração na Serra da Estrela

Loriga e Cabeça afiguraram-se-nos como alternativas de descoberta nesta época do ano em pleno Parque Natural da Serra da Estrela. Se em Loriga, a “Suíça Portuguesa”, ficámos Inebriados pelo património natural fabuloso, em Cabeça, a “aldeia Natal”, as palavras não conseguiam traduzir, em rigor, o que presenciávamos. Um dia inesquecível e indescritível.

Loriga e Cabeça e Serra da Estrela
Entre Loriga e Cabeça, uma força de atração na Serra da Estrela - ©Nuno Adriano

Entre Loriga e Cabeça, uma força de atração na Serra da Estrela

Nunca imaginamos o que está por detrás de uma colina, no interior de um vale, num topo de um planalto. É isso que nos faz ir à procura, à descoberta como se algo nos chamasse e nos atrai com uma força inexplicável. É assim que o vale encaixado entre a vila de Loriga e a ‘aldeia Natal’ de Cabeça se apresenta ao Mundo: uma força de atração.

 

Um universo de socalcos

Loriga é como ‘um raio de sol’ que ilumina a Serra da Estrela, onde ninguém fica indiferente à luz que erradia da sua paisagem. As suas casas encavalitadas numa crista que se destaca no vale, rodeada por centenas de socalcos onde ainda se pratica a agricultura tradicional, intercalada com a pastorícia pictórica e muito terra a terra. É perante este cenário da “Suíça Portuguesa” que iniciamos a nossa caminhada temática neste vale único e rumo a jusante, abençoados por uma chuva que não nos incomoda minimamente. Só o estar aqui, para nós, é como estivesse um dia de sol jubiloso.

 

1000 Cenários

Fazendo jus à introdução deste artigo, é assim que este percurso se apresenta. O que nos cativa mais, conforme vamos percorrendo este vale, é a expectativa do que vamos encontrar. É a curiosidade que nos alimenta e fornece todos os nutrientes que precisamos. A mescla de paisagens, a relação delas com o Homem e como este se envolveu tanto com elas, criou uma miscelânea que nos faz parar, apreciar e aprender como tudo isto se relaciona de forma harmoniosa.

As casas de xisto criteriosamente construídas, envolvidas por socalcos ligados por escadarias abruptas que terminam em muros seculares que delimitam a ribeira é o reconhecimento do trabalho destas gentes, um reconhecimento de um esforço incalculável e cuja riqueza é imensurável. Aqui não temos ouro, mas temos algo que pode ser muito mais valioso: as nossas raízes, a nossa cultura e o nosso legado.

 

A força da água

O som que ecoa no vale não passa despercebido. Algo ‘canta’ bem alto e aguarda o nosso aplauso. Assim, num desvio do percurso, seguimos o som e deparamo-nos com uma cascata no meio do nada. Equacionamos se mãe natureza não teria feito uma pausa na sua forma de criação, para refletir como esculpir estas pedras e dando-nos a nós, humanos, a humilde oportunidade de contemplar. E assim, como sempre, decidiu, e bem, em deixar-nos este momento. Aproveitámos ao máximo este intervalo em que tempo parou, e nunca uma merenda do caminheiro soube tão bem. Para quê temperos, se este panorama nos dá um novo significado de paladar?

 

A levada que alimenta

Seguimos agora por uma levada, um canal que se destina à condução da água das zonas mais altas para as propriedades agrícolas mais a jusante, utilizando somente a gravidade. Segue por um corrupio de encostas e valeiros, dando-nos uma perspetiva geral deste vale recôndito. A água, fonte de vida, faz com que exista uma ampla variedade de fauna e flora e fomos surpreendidos pelo avistamento de uma Salamandra-lusitânica, uma deleitação da natureza que podemos encontrar nestes habitats de propriedades bastante húmidas, não fosse ela um anfíbio e que encontra na Serra da Estrela, um dos seus limites máximos de distribuição geográfica. A sorte ‘premeia’ os audazes e nós de facto fomos bafejados pela sorte.

 

A aldeia Natal

A levada corre lentamente em direção à aldeia. Passo a passo a ruralidade torna-se mais evidente. Pequenos campos de agricultura, escrupulosamente trabalhados com tanto afinco e tanto saber dizem-nos da paixão que as gentes locais têm para com o seu território. Paixão essa sentida quando tivemos um contacto próximo com um casal, que de forma amável e simpática nos mostrou o seu rebanho. Um verdadeiro tesouro aos olhos deles, um verdadeiro mimo para os meus convidados que era mesmo esta interação que procuravam. Um momento especial desta caminhada que se perpetuará nas suas memórias. Algo que já é apanágio no nosso trabalho.

Chegámos a Cabeça, aldeia Natal, sempre engalanada para nos receber, onde o mosaico de cores do xisto que perdura na construção nos deixa ‘atordoados” com embate de potência visual única, não deixando os nossos convidados indiferentes. Envolvemo-nos nesta singela aldeia, um puzzle de ruas e ruelas típicas e sinuosas, adaptando-se ao que as encostas ditam. Uma verdadeira aldeia que no Inverno se transforma num presépio vivo, o qual nos convida à sua visita sem demora.

 

O ponto de chegada que é um ponto de partida…

Olhámos para trás e vemos o que vivemos neste dia. Digo sempre aos meus convidados que aqui tudo tem um sentido, algo inexplicável que funciona de forma magnética. Foi esta a força de atração que nos puxou para aqui e incrivelmente assim nos deixámos levar por ela. E ainda bem, dissemos todos em uníssono.

Este dia entre Loriga e Cabeça em pleno Parque Natural da Serra da Estrela deixa-nos com sensações e ‘imagens’ que dificilmente conseguimos transmitir mas com uma enorme vontade de voltar.

 

NOTA IMPORTANTE: No percurso que efetuamos, aconselha-se vivamente a visita com acompanhamento de guia

Artigos relacionados (14) com “Entre Loriga e Cabeça, uma força de atração na Serra da Estrela”:

Interior do país – Chegou o Tempo

chegou o tempo