Quinta do Espinho – O ecletismo do Douro

A família Macedo Pinto, em 1985, fez renascer o projeto vitivinícola da Quinta do Espinho, orientado para a produção de uvas de qualidade e de vinhos de quinta

Quinta do Espinho
Quinta do Espinho - O ecletismo do Douro - ®DR

Nunca vimos o Douro daquela perspectiva. As videiras que cobrem os grandes declives laminados de xisto, numa imensa escadaria de socalcos e patamares, levantam-se a partir do rio e afiguram-se como uma das mais belas paisagens de Portugal, uma das maiores obras-primas trabalhadas pela mão humana. Apetece sorver o rio de um trago só, bem como fotografar interminavelmente todo aquele cenário para que não se apague da memória. Estamos dentro da Quinta do Espinho. Numa propriedade de 22 hectares que corre sobre a foz do rio Távora e encontra a margem esquerda do Douro. Estamos na sub-região do Cima Corgo, onde encontramos os mais emblemáticos produtores de vinho do Porto e dos tintos de exceção da região.

Joaquim Peres Ventura, pai de Patrícia, Pedro e João, gere o negócio da Quinta com alma jovem, resiliente e dinâmica num corpo de octogenário.

Caminhamos por entre as vinhas da Quinta do Espinho – que nesta altura do ano começam a abrolhar – ao lado de Patrícia que nos diz que o Douro também tem estados de espírito, de acordo com as estações do ano. «De inverno é mais triste», diz, mas mesmo essa tristeza, de videiras despidas, aquece e apaixona o olhar de quem as olha.

O regresso às origens

É neste contexto que um dos ramos da família Macedo Pinto, agora pelas mãos de Joaquim e do seu irmão Alberto, regressaram às raízes, ao Douro, à terra e aos vinhos. Foi em 1985 que fizeram renascer o projeto vitivinícola da Quinta do Espinho, orientado para a produção de uvas de qualidade e de vinhos de quinta. Nesse ano, iniciou-se a instalação de novas vinhas. Já em 2009, procedeu-se à requalificação das instalações da adega e armazém, optando-se por modernos equipamentos de vinificação e armazenamento, de forma a garantir a máxima qualidade no exigente processo de vinificação. Também se restauraram os edifícios do início do século XVIII, respeitando as exigências impostas pela localização da Quinta, no coração da região do Douro, mantendo as estruturas originais, como os lagares em pedra, ainda hoje utilizados.

Um terroir único, com o selo de Património Mundial da Humanidade

Uma das regiões produtoras de vinho mais antigas no mundo, o Douro – que granjeia do estatuto de Património Mundial da Humanidade – é reconhecido por ter um dos terroirs mais distintivos da história da viticultura mundial. Na Quinta do Espinho, há um reforço destas características naturais do terroir único duriense. Vemos os patamares recortados com precisão nas encostas, num modelo de vinha sustentável que privilegia uma única fila de vinha no lado exterior de cada patamar, para facilitar o acesso às máquinas em detrimento do uso de herbicidas. Há a preservação de orlas de mato, áreas de pomar e de produção silvícola, que atuam como corredores de ligação a territórios vizinhos de compensação ecológica. Um habitat, com Certificado de Proteção Integrada, que permite ainda a nidificação de aves, abelhas e outros insetos. É desta parceria com a natureza que resulta a qualidade dos vinhos da Quinta do Espinho. 

De castas típicas durienses a vinhos com carácter e elegância

As vinhas da Quinta do Espinho encontram-se divididas em talhões independentes com as castas tradicionais do Douro. A variedade de uvas plantada consiste numa seleção das melhores castas tintas da região, em que predominam a Touriga Franca (35%), a Touriga Nacional (25%), a Tinta Roriz (20%), a Tinta Barroca (8%), a Tinta Francisca (5%), a Alicante Bouschet (5%) e a Tinto Cão (2%).

Daqui, e pelas mãos do enólogo Jean-Hugues Gros, nasceram as 7 maravilhas da Quinta do Espinho, 7 vinhos que se apresentam em três níveis: entrada de gama, reserva e grande reserva.

Encontramos assim:
  • o Quinta do Espinho Grande Reserva Touriga Nacional, monovarietal, complexo e com um longo final, apenas produzido em anos em que se reúnam as condições ótimas para obter um vinho de elevada qualidade;
  • o Quinta do Espinho Grande Reserva, vinho complexo e elegante que resulta de uma rigorosa seleção de castas, de forma a obter um verdadeiro blend de elevada qualidade;
  • o Quinta do Espinho Reserva tinto proveniente de castas selecionadas da Quinta, onde predominam a Touriga Nacional, a Touriga Franca e a Tinta Roriz;
  • o Quinta do Espinho Reserva branco, elaborado a partir de uma seleção criteriosa de uvas, onde predominam as castas características durienses, como a Viosinho, Rabigato, Códega de Larinho e Gouveio;
  • o Quinta do Espinho Colheita tinto, elaborado a partir das castas tradicionais do Douro, Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Barroca.
  • o Quinta do Espinho Noémi branco, feito em homenagem à mãe Joaquim Peres Ventura e elaborado a partir duma selecção criteriosa de uvas, onde predominam as castas características do Douro, Viosinho, Rabigato e Códega de Larinho;
  • o Quinta do Espinho Camila rosé, produzido em homenagem a Camila que, aos 92 anos, em 2014, fez a sua última vindima na Quinta. É elaborado a partir de uma seleção criteriosa de uvas, onde predominam as castas características do Douro, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca.

Todos estes vinhos são produzidos, elaborados e vinificados num ciclo, desde a seleção das cepas até à vinificação, internamente controlado, em que se privilegia a combinação do método tradicional de vinificação com o controlo da temperatura, em lagares com as mais modernas tecnologias de vinificação e estágio, em cascos ou em cubas de aço inoxidável.

Na despedida da Quinta do Espinho e do Douro, encontramos André. Homem dos sete ofícios e responsável da produção na Quinta do Espinho que assegura, com a ajuda de outras mãos a manutenção daqueles 22 hectares de terra. Olhámos uma última vez para o Douro, com a esperança de ali voltar, e brindámos com um Quinta do Espinho Grande Reserva Touriga Nacional. Percebemos que o caráter daquele vinho, de gosto complexo, refinado, eclético e elegante, não é mais do que o caráter das pessoas que o envolvem e que fazem da Quinta do Espinho um destino obrigatório no Douro.

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