Via Graça: Um paraíso gastronómico, com Lisboa a seus pés

“Antes, tudo isto aqui era um miradouro”, diz João Bandeira, o dono do Via Graça, um paraíso gastronómico, com Lisboa aos pés.

Via Graça Lisboa
Via Graça: Um paraíso gastronómico, com Lisboa a seus pés - ©Armando Saldanha (Aldrabiscas)

Com uma vista, privilegiada, numa panorâmica de 180 graus que abarca o Mosteiro da Graça, o Castelo de São Jorge, o Tejo, o Cristo Rei, a Ponte 25 de Abril e toda a baixa pombalina aos seus pés, o Via Graça, em Lisboa, é um paraíso gastronómico, assente numa carta que respira portugalidade.

Inaugurado em 1988, o Via Graça, está situado num dos bairros mais típicos e visitados de Lisboa. Conhecido essencialmente pelos seus dois Miradouros, que alcançam generosas vistas sobre a cidade, na Graça esconde-se um vasto património cultural, mas não só.

Animado e vibrante, o bairro da Graça fica na mais alta das sete colinas de Lisboa, a cereja no topo da cidade. A poucos passos do miradouro da Senhora do Monte, virado para a Lisboa pombalina e para o Tejo, encontra-se o Via Graça.

Com 35 anos de vida, este restaurante com uma vista de fazer inveja a qualquer um é o local ideal para alimentar os seus sentidos: todos eles! “Comer com Lisboa à mesa” é talvez a melhor expressão, para um restaurante, onde a cidade invade o espaço deslumbrando quem junto às grandes vidraças se deixa deslumbrar pelos sabores e texturas dos pratos apresentados.

Junto à grande vidraça da acolhedora sala de jantar, conversámos com João Bandeira, o ‘coração do Via Graça’. E João Bandeira contou-nos a história da paixão que o liga a este espaço. Foi com vinte anos, que se deu conta que tinha um sonho: “Um dia, hei-de ter um restaurante.”  Sem dinheiro para investir, o sonho permaneceu vivo até à noite de 13 de dezembro de 2002.

Nessa noite, uma noite complicada, com o restaurante cheio e pessoas à espera, João Bandeira entrou pela porta do Via Graça para anotar umas encomendas como era habitual. João Machado Dias, o dono do restaurante, muito nervoso, olhou para ele e disse: “Isso tudo, a partir de agora, é teu!”. “Foi um sonho que virou realidade com uma maravilhosa vista para Lisboa”, conta o nosso anfitrião.

Antes de abandonar o restaurante, o antigo dono, dirigiu-se à cozinha e comunicou em voz alta a todos os funcionários a sua decisão: “Tomem atenção, a partir de hoje o João é o dono do Via Graça!”.

Nervoso, com as pernas a tremer, mas os pulsos sempre firmes, João Bandeira recém-promovido a chefe cumpriu a primeira das noites à frente do Via Graça. No outro dia, voltou ao restaurante para entregar o envelope com o apurado da noite anterior ao antigo dono. Até aquela hora, João pensava que não passava de “um ataque de fúria” do antigo dono, que voltaria atrás na ideia. Mas não, João Machado Dias, recusou o envelope e reforçou: “Acho que não me ouviste bem: isso tudo, a partir de agora, é teu!”

E foi assim que João Bandeira, realizou o seu sonho. Emocionado diz “Sempre soube que teria um restaurante, mas não imaginava que iria começar no topo.”

A vista do “topo” de Lisboa é mérito do antigo dono, João Machado Dias. Em 1988, quando decidiu abrir um restaurante na Graça, onde se situava um pequeno miradouro, mas com a vista fabulosa que agora disfrutamos.

Já a decoração, é fruto da reforma que João Bandeira, idealizou e que transformou o Via Graça, no seu restaurante, no seu lugar, na sua casa!

“Do restaurante anterior, ficou só a vista, o que não é pouca coisa”, diz João Bandeira, que teve de esperar duas décadas para que o seu sonho finalmente tivesse a sua cara.

O Via Graça, de hoje surpreende pela decoração moderna e elegante, refletindo o mesmo cuidado com os detalhes dos pratos servidos à mesa.

Nas entradas saboreamos os croquetes de Arouquesa e chouriço de Porco Alentejano com mostarda (fortes candidatos aos melhores de Lisboa) e os pasteis de bacalhau, um ícone da cozinha portuguesa com o molho pilpil a acentuar o sabor da tradição.

Depois foi a vez de uma Vieira e pinhão torrado, a conjugação perfeita de mar e terra. A delicada vieira e cogumelos frescos salteados com alho e tomilho, bechamel de pinhão e pinhão torrado fez-nos ficar na expectativa do que viria a seguir.

Tártaro do lombo, tutano e gema fumada. Simplesmente um prato improvável recomendado para apreciadores, de sabores fortes.

Nos copos a acompanhar este arranque divinal, um branco da Herdade do Sobroso Cellar Selection Antão Vaz & Alvarinho que também harmonizou na perfeição o prato que se seguiu. O célebre Bacalhau à Brás, referência incontornável do vastíssimo receituário português, aqui com algumas particularidades: o bacalhau à Brás que é servido no Via Graça destaca-se por o bacalhau não vir desfeito e envolto nos ovos e batata palha. Aqui o bacalhau é servido numa pequena e suculenta posta assente na batata e no ovo e que se desfaz em lascas com a colher.

Seguiu-se o lavagante na grelha, servido com um enriquecido arroz e tártaro de camarão.

Para sobremesa, optámos pelo Leite creme da Tia Aida queimado e Sericaia com gelado de ameixa d´Elvas, um “Must have” de qualquer restaurante dito tradicional, mas aqui, como noutros pratos, com o cunho do Via Graça.

Refeição deliciosa e conversa agradável com João Bandeira, que às vezes também é Chef. “Sei fazer todos os pratos! Aprendi a cozinhar com a D. Ricardina a antiga cozinheira, que já se reformou. Aprendi muito com ela!”.

Estava constatado! No Via Graça, a luz e a vista da nossa Lisboa é um ‘acessório’ mas não o mais prazeroso.

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