
Entre o azul das águas e o dourado das planícies, o Alqueva revela-se como um dos lugares mais surpreendentes do Alentejo. Visitar o Alqueva é entrar num território onde o tempo desacelera e cada instante parece nascer da terra, da luz e da memória. Entre as várias formas de explorar esta região, começar o percurso em Vila Viçosa é uma opção natural e inspiradora. O Paço Ducal impõe a sua grandiosidade e o mármore define a paisagem. No Marmóris Hotel, o mesmo mármore que construiu palácios ganha nova vida em espaços de conforto e elegância. À mesa do restaurante Ouro Branco, o Alentejo prova-se em pratos de tradição — sopa de cação, febras com migas de espargos e sericaia — sabores que falam da simplicidade e da alma do lugar.
Perto dali, a Farmácia do Monte preserva séculos de história da saúde e da botânica, enquanto a Pedreira do Monte d’El Rey impressiona pela escala e pela vertigem da sua plataforma suspensa, de onde se observa o brilho do mármore a céu aberto. A viagem segue até Monsaraz, onde as muralhas medievais guardam vistas infinitas sobre o lago. O antigo lagar de azeite que hoje acolhe o restaurante Sem-Fim é um refúgio de autenticidade. Entre paredes de pedra e memórias antigas, servem-se sopa de tomate com ovos escalfados e entrecosto com batatas assadas — sabores que aquecem o corpo e contam histórias de gerações.
O grande lago do Alqueva estende-se diante do olhar como um mar interior, tranquilo e vasto. O passeio de barco é uma experiência de silêncio e contemplação. A luz reflete-se nas águas e, por momentos, o horizonte dissolve-se. No Museu da Luz, a memória ganha forma através de fotografias, objetos e vozes que recordam a aldeia submersa. Ali compreende-se que visitar o Alqueva é também mergulhar nas histórias das pessoas que reinventaram o seu lugar no mundo.
Mais a sul, o Parque de Natureza de Noudar convida ao repouso entre o montado e as paisagens protegidas pela Rede Natura 2000. As casas rurais acolhem quem procura serenidade, e à mesa do restaurante Pançona saboreia-se o melhor da cozinha local: sopa de legumes com ovo esfarelado e entrecosto no forno com migas, numa harmonia que traduz o conforto do Alentejo profundo. No alto do castelo de Noudar, as muralhas erguidas por D. Dinis em 1307 continuam a guardar a fronteira e o tempo.
Na Herdade do Sobroso, os vinhos refletem o caráter da terra. A experiência sensorial prolonga-se com pato confitado em redução de laranja e doces conventuais como o tecolameco ou o toucinho do céu, heranças de um Alentejo doce e generoso. O Centro de Interpretação de Alqueva (CIAL), na margem da barragem, revela a dimensão humana e técnica desta obra monumental. No terraço panorâmico, um concerto ocasional do grupo Os Bandidos do Cante uniu tradição e modernidade, num encontro perfeito entre cultura e paisagem.
Em Moura, o palacete Amada Moura acolhe com charme mourisco e serenidade. E em Vila de Frades, entre as ruínas romanas de São Cucufate e as talhas de barro da adega Gerações da Talha, o vinho e a história encontram-se num mesmo gesto. O cozido de grão partilhado à mesa e os vinhos Datalha e Farrapo encerram esta travessia de sabores e afetos.
Visitar o Alqueva é mais do que conhecer um destino: é sentir o Alentejo no seu ritmo mais puro, onde a natureza, a história e as pessoas se entrelaçam. É descobrir uma paisagem viva, feita de silêncio, luz e autenticidade — um lugar que permanece na memória muito depois do regresso.




















