Adega da Vidigueira: A arte secular de fazer Vinho de Talha

A arte secular de fazer Vinho de Talha, símbolo maior do Alentejo, é ainda hoje, apoiada e preservada pela Adega da Vidigueira.

Adega Vidigueira Vinho Talha
Adega da Vidigueira: A arte secular de fazer Vinho de Talha - ©Armando Saldanha (Aldrabiscas)

Viajar pelo antigo Alentejo e descobrir as vinhas centenárias que têm vindo a ser preservadas pela Adega da Vidigueira e pelos seus associados, é entrar num mundo de aromas e sabores, cujas uvas dão origem ao Vinho de Talha.

As vinhas centenárias de Vila Alba, são compostas por castas brancas identificadas como Antão Vaz, Roupeiro, Manteúdo, Diagalves, Larião e Perrum. Estas vinhas apresentam-se afastadas umas das outras, muitas vezes com oliveiras ou outras árvores pelo meio. Eram partes de hortas que serviam de subsistência para muitas famílias que tinham várias culturas num pequeno espaço de terra. “Por estes motivos, não existem muitos hectares de vinhas centenárias na região. No entanto, a nossa Adega tem apoiado os seus associados a preservarem estas vinhas” explica o Eng. José Miguel Almeida, presidente da ACVCA.

O processo de viticultura deste tipo de vinho, em solos derivados de granito, e com pouca água tem vindo a cair em desuso, mas para o presidente da ACVCA, José Miguel Almeida, é da maior importância “mostrá-lo e valorizá-lo para que esta autêntica relíquia que ainda temos em cerca de 10 hectares, possa perdurar no tempo”. Além disso, “é um tema muito querido para nós porque é a partir destas uvas centenárias que fazemos o Vinho de Talha. Juntamos a antiguidade das vinhas, com a tradição milenar que nos foi deixada pelos romanos de fazer o vinho em talhas de barro”.

As alterações climáticas, a falta de água no solo e as temperaturas elevadas, têm contribuido para que produção deste vinho tenha vindo a decrescer. As vindimas que habitualmente tinham início em meados de setembro, estão já a acabar de acordo com o enólogo Vasco Moura Fernandes “Iniciámos a vindima a 7 de agosto, a data mais precoce da nossa história. Há uns anos, por esta altura, estávamos em início de vindima. Agora, estamos a finalizar. Deveremos terminar a vindima já no final da próxima semana” .

Para Vasco Fernandes, diretor de enologia e produção da Adega da Vidigueira, o impacto das mudanças do clima, “contribuíram para uma quebra na produção de uva. No ano passado, a vindima bateu valores recorde com 10 milhões e 600 toneladas de uva. Neste momento, estamos com nove milhões e iremos ficar muito próximos dos dez milhões”, salientou o enólogo.

Mesmo esperarando uma quebra de produção na ordem de 5%, em relação a 2022, o enólogo mostra-se bastante otimista em relação ao resultado global desta campanha.

A original garrafa em forma de ânfora, inspirada nas antigas talhas de barro, traz para o mercado, um vinho com uma identidade fortíssima no que toca aos aromas. Este tipo de vinho é reconhecido e bastante apreciado na região, direcionado a um nicho de mercado selecionado.

Também o enoturismo, tem lugar no coração desta região que se fez casa de um vinho muito especial. Deixe-se inspirar por um terroir único e um saber fazer com mais de dois mil anos.

Visitar a Casa das Talhas, descobrir a arte milenar de fazer vinho de talha, e no final, apreciar a prova deste vinho único, elaborado com uvas brancas de vinhas centenárias. Terminar com a prova de outro vinho Vidigueira (branco ou tinto) e desfrutar das notas únicas desta região, é motivo mais que suficiente para uma deslocação ao Alentejo genuíno, despido de pretensões, onde se situa a Adega da Vidigueira.

A Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito foi fundada em 1960, mas a sua cronologia vai muito para além dos seus 60 anos de existência. Foi criada para proteger a vinha, o vinho e o estilo de vida milenar desta sub-região de vinhos e aportar ainda mais renome e qualidade ao vinho aqui produzido.

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