
O 11.º Fórum Vê Portugal terminou esta quarta-feira, em Anadia, com um painel final que reuniu os presidentes das cinco Entidades Regionais de Turismo (ERT) do continente. Em tom de balanço e projeção estratégica, os responsáveis defenderam uma maior autonomia financeira e administrativa para as ERTs, considerando que a sua atual margem de atuação é insuficiente para responder às exigências de um setor que representa mais de 20% das exportações nacionais.
Moderado por Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, o debate final contou com intervenções de Luís Pedro Martins (Porto e Norte), Rui Ventura (Centro de Portugal), Carla Salsinha (Lisboa), José Santos (Alentejo e Ribatejo) e André Gomes (Algarve). Entre consensos e alertas, ficou o diagnóstico de que as ERTs estão a perder capacidade de execução e que o Estado precisa de reconhecer de forma mais clara o papel destas entidades no desenvolvimento turístico sustentável.
Rui Ventura, anfitrião do fórum enquanto presidente da Turismo Centro de Portugal, foi incisivo: “As Entidades Regionais têm muito pouca autonomia. Há tecnocratas nos gabinetes que acham que podem comandar as estratégias das ERTs”. Defendeu, por isso, pareceres vinculativos por parte das entidades regionais e criticou a dispersão de competências no setor. Já Carla Salsinha sublinhou a complexidade da gestão: “As pessoas não têm a noção da dificuldade que é gerir uma ERT. Há muitas vozes, muitas instituições com competências no turismo, o que gera ineficiência”.
As dificuldades transversais nas ERTs, nomeadamente na contratação de recursos humanos e na rigidez dos quadros da administração pública, foram também destacadas por José Santos e André Gomes, que lamentaram a erosão da capacidade de ação regional desde 2013. Luís Pedro Martins acrescentou que a Lei 33, que definiu as competências das ERTs, ficou aquém do necessário e apelou à revisão urgente do modelo.
Turismo interno como alicerce do setor
O dia começou com uma forte valorização do mercado interno enquanto motor do turismo nacional. No painel moderado por André Gomes (Algarve), vários especialistas reforçaram que o turismo doméstico tem sido um pilar fundamental em tempos de crise e é essencial para manter a coesão territorial. Ana Jacinto (AHRESP), Raquel Oliveira (APAVT), Emanuel Freitas (AP Hotels & Resorts) e Álvaro Covões (Everything is New) convergiram na ideia de que o turismo interno deve continuar a ser estimulado e qualificado.
Paisagem e natureza como trunfos regionais
O programa incluiu ainda debates centrados na valorização dos recursos naturais e culturais das regiões. Carla Salsinha (Lisboa) moderou um painel sobre o turismo de natureza na capital, com exemplos como a Tapada de Mafra, a Marinha do Tejo e o EVOA – Espaço de Visitação e Observação de Aves. José Santos conduziu a reflexão sobre o papel da paisagem alentejana, que os oradores identificaram como um recurso identitário e económico em risco.
Encerramento com apelo à continuidade e colaboração
Na sessão de encerramento, Rui Ventura agradeceu aos participantes e oradores, destacando o contributo do evento para a afirmação da região Centro e para o turismo nacional: “A partir de agora, o Vê Portugal passa também a contribuir para a afirmação do turismo no nosso país”. Lançou ainda o desafio às restantes ERTs para regressarem no próximo ano, mantendo o espírito de cooperação e troca de perspetivas.
Teresa Cardoso, presidente da Câmara Municipal de Anadia, expressou o orgulho do município em acolher o fórum e sublinhou a necessidade de valorizar os ativos locais como o enoturismo e o termalismo, enquanto pilares de um turismo sustentável.
Organizado pela Turismo Centro de Portugal, em parceria com o município de Anadia e com o apoio das ERTs e do Turismo de Portugal, o Fórum Vê Portugal reuniu centenas de profissionais, decisores e agentes económicos durante três dias intensos de reflexão, partilha e construção de caminhos comuns para o futuro do turismo nacional.
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